ContraPonto: Consciência corrompida
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Está de volta a coluna ContraPonto após um meio que sabático de consciência, se é que se pode conceber a possibilidade de supressão do sentido ou percepção que todo ser humano possui – ou tenderia a possuir – daquilo que é moralmente certo ou errado em atos e motivos individuais.
A consciência, a funcionar como o juiz que ordena acerca de coisas futuras – e que se traduz em sentimentos de alegria, satisfação, ou de culpa, remorso, acerca de coisas passadas – parece viver um tempo em que deletá-la, comprá-la ou ignorá-la tornou-se absurdamente natural; mesmo que temporária e sob argumentação que utiliza a simulação para justificar ou legitimar qualquer ato ou circunstância. A sua relação com o mundo exterior, ao menos em nível individual com ele no conjunto das ideias, atitudes e crenças de um grupo de indivíduos- naquilo que têm em comum ou com o mundo que os cerca – vê-se agora corrompida por tão vãos motivos que faz o sábio calar-se ainda mais; o jovem distorcer sua percepção de mundo; e aqueles ainda crentes na humanidade decepcionarem-se a ponto de perderem a fé num futuro glorioso da civilização terrena. Ao comprar a própria consciência o homem corrompe-se a si próprio.
Em tempos de condicionamento globalizado de sentimentos, valores e ideias, cidadãos e indivíduos que não se deixam levar pelas psicoses coletivas de todas as espécies – em especial as sociais e religiosas – têm plena consciência do caos em que nos encontramos; constatam o quanto nosso mundo está triste, chato, cansativo e repetitivo de tudo que a humanidade terrestre já produziu, experimentou e vivenciou. Mudam as roupagens e os atores. O momento clama por ajuda. Mentes iluminadas que já passaram pelo planeta e deixaram nobre legado talvez possam nos auxiliar. Uma dessas mentes é Jiddu Krishnamurti (1895-1986), filósofo, escritor, e educador indiano cujo extrato de um de seus diálogos com pensadores modernos é aqui citado na esperança de que suas palavras venham trazer um lampejo de luz a todos, especialmente àqueles que “se acham” o máximo como seres humanos, mas que podem não passar de usurpadores institucionalizados, consciente de sê-lo ou não.
Fala Krishnamurti
Ao falar sobre “O que devo fazer neste mundo”, em fevereiro de 1974 na Califórnia, EUA : “O que devo fazer neste mundo…quer dizer, qual é o meu lugar neste mundo. Em primeiro lugar o mundo sou eu. Eu sou o mundo. Esse é um fato absoluto. E o que devo fazer? O mundo é isto: corrupto, imoral, assassino; não há amor. Há superstição, adoração de ídolos, pela mente e pela mão do homem. Há guerra. Esse é o mundo. Qual a minha relação com isso? Minha relação com isto só existe se sou isso. Se não sou isso não tenho relação com isto. Para mim o mundo é corrupto, é equipado para matar. E eu não vou matar. Qual é a minha relação com o homem que vai e mata um bebê foca? Eu digo meu Deus como você pode fazer uma coisa dessas! Entendem? Quero chorar por isto. Eu quero. Como você pode educar esse homem ou a sociedade que permite que algo assim aconteça? O que quer que se faça pode levar à ação por uma perspectiva completamente diferente. Chego a isso pois há algo diferente em mim operando: compaixão, amor, inteligência, tudo isso está operando em mim. Como seres sérios, a corrupção, a matança, a corrupção… cortamos isto! Terminamos com isto. Então ficamos sozinhos. Sozinhos, não isolados. Quando a mente não é isso, ela está sozinha. Ela não se retirou, não se desconectou, ela não construiu uma torre de marfim para si própria, não está vivendo na ilusão. Ela diz, isso é falso! Isso é corrupto, não vou tocá-lo”.
E nós brasileiros?
A parafrasear krishnamurti, que relação tenho com barbáries político-culturais em andamento em nosso País? Com tanto apoio, os usurpadores da Nação querem mais uma vez fazer do Brasil uma colônia. Uma neocolônia, com a entrega de patrimônios públicos e de nossas jazidas minerais ao capital especulativo nacional e internacional sob cínicos pretextos; com a aniquilação de nosso orgulho; com injustiças sob véu justiceiro; com o assassinato de nossa jovem democracia respaldado pelo descaramento de pautas midiáticas a dar estúpida repercussão aos infames argumentos; e com a castração de nossa liberdade (vide a proibição da manifestação “Fora Temer” nas Olimpíadas, vergonhosamente escondidas pela imprensa que apoia o golpe contra, acima de tudo, o povo, antes de ser contra a Presidência da República).
Como tocar a consciência de um cabeça-feita pelos jornalões, revistões e emissoras de TV comprometidas com essa farsa do impeachment, martelada aos moldes nazistas na mente das pessoas para que se torne algo crível e verdadeiro? Como educar o homem brasileiro comum, típico maria-vai-com-as-outras e a própria sociedade que se sacia na discriminação e no ódio? Em nível de país, como ensiná-los o que é nação soberana, desenvolvida, socialmente inclusiva e com liberdade? É possível ser diferente.
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HOMENAGEM PÓSTUMA
Ao caro Djalma de Lima, incansável radialista e jornalista que nos deixa, e com ele enorme lacuna em nosso meio. O eterno Repórter da Juventude – como ficou conhecido no início de sua carreira no começo dos anos 1970 na gloriosa Rádio Difusora – jamais deixou o seu coração ser levado pelas falsas verdades, pelas meias-verdades e pelas mentiras de nosso tempo. Jamais corrompeu a sua consciência. Uma perda que nos deixa muito tristes. Era ao mesmo tempo um contraste e um contra ponto a uma imprensa falida, corrupta e a serviço do poder a qualquer preço. Com certeza o Criador sabe onde empregá-lo no Universo. Adeus, amigo.
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Frase de hoje: “Vaza Temer!”
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NOTA: Ao que se pode interpretar, os assassinos da democracia brasileira estão soltos, felizes e em extasiante orgasmo. Vide Janaína Paschoal, parafuso descartável da máquina golpista, feliz pelos R$ 40.000,00 recebidos pelo trabalho sujo travestido de legalidade; Temer, com seu ar golpista e sem culpa a “segurar a onda” de seus sequazes corruptos; Cunha, o “imprendível”, sob os olhares cúmplices de movimentos “espontâneos’ agora recolhidos à sua patética omissão e falsidade; e à expectativa tucana de repetir a era pós-Collor. Democracia golpeada Será que o País merece?