ContraPonto: O Gran Circo do cinismo – Brasil 2016

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Como é possível mais da metade de um Congresso Nacional investigado por crimes de corrupção, lavagem de dinheiro e outras falcatruas; e outra grande parte tomada pelo fisiologismo, todos esses decidirem quem governa e quem não governa uma nação de mais de duzentos milhões de habitantes e sexta-sétima economia mundial? Com que moral o fazem ou pretendem fazê-lo? Talvez só os amantes da desfaçatez, do cinismo e mestres do descaramento consigam responder, sem antes contar com aquela que seria a gritante omissão da sociedade “ávida por justiça e pelo fim da corrupção”.

Como é possível a nossa sociedade aceitar grosseiras manipulações de setores da nossa imprensa e da  mídia em geral a moldar a opinião pública com aquilo que querem ver colar na sociedade como verdade e isenção? Como é possível a sociedade ainda aceitar processos a correr em segredo de justiça, sob quaisquer argumentos, principalmente quando se trata de homens públicos – especialmente políticos, em exercício ou não?

Esta coluna sempre denunciou o perigo e a farsa de eleger-se um grupo político como os únicos responsáveis pelas agruras e pela corrupção no País. Foi feita a cabeça da sociedade brasileira de que há um único culpado por tudo: o PT, o bode expiatório da vez. Aponta-se um único grupo culpado e os demais saem ilesos, respaldados por setores da indústria da informação e de notícias, irresponsáveis e sem compromisso com a verdade. Basta olhar o foco das matérias nesse “pré-impeachment”: destaca-se todo momento  e de forma negativa e pejorativa as negociações do governo com deputados para reestruturação de sua base (e claro que isso é feito com redistribuição de responsabilidades e cargos, como sempre ocorreu e ocorre em qualquer democracia), enquanto sequer são “denunciadas” as negociações de Temer e Cunha a prometer cargos para aqueles que votarão pelo impeachment e, ao que parece, a garantia de que tudo será abafado e mais ninguém será processado.

O povo precisa ficar atento,  pois vem aí um grande “acordão” para barrar a Lava Jato caso Temer e Cunha assumam o comando do País, segundo denúncias de deputados do PSOL. Aprovar o impeachment de Dilma Rousseff seria a saída mais curta para livrar a grei de Cunha de processos e da cadeia. Essa é a grande chave oculta e segredo de Cunha para tal arrebatamento de parlamentares “sinceros” com as causas do impeachment. Jamais será noticia na mídia golpista.

Por outro lado, o PSDB, o pai do golpe, se ficar de fora de um eventual governo golpista do fisiológico PMDB, se ficarem num papel subalterno, muito provavelmente farão uso do Plano B do golpe tucano: apelar para Gilmar Mendes (o juiz das causas tucanas, permito-me pensar) para que anule a candidatura Dilma-Temer via Tribunal Eleitoral.

É golpe dentro de golpe, opondo-se ao golpe dentro de outro golpe e que pode ser resumido em “o poder é o que interessa e dane-se o País e os ingênuos que levantam bandeiras da luta contra a corrupção”. Pobre povo brasileiro.

A luta contra a corrupção não pode parar

Se realmente a luta fosse contra a corrupção, exigir-se-ia também a saída de mais da metade do Congresso Nacional – aqueles envolvidíssimos em denúncias -, de Temer e de Cunha. E a sociedade, sob o risco de ser cúmplice de um golpe de Estado, não deve se calar ou aceitar argumentos da grande mídia a promover falaciosos discursos e retóricas que anistiem a corrupção daqueles que não pertencem ao Partido dos Trabalhadores e ao governo federal, únicos apontados como os grandes corruptos do País. Fácil assim. Mentiroso assim.

A maior prova de que a corrupção é endêmica é a  pesquisa recente do Instituto Vox Populi, onde 70% dos entrevistados responderam que a corrupção é sistêmica, derruindo a narrativa tucana e oposicionista   de que somente o PT seria corrupto. A propósito, vale a pena citar um dos procuradores responsáveis pela Operação Lava Jato, Carlos Fernando dos Santos Lima, para quem os governos anteriores aos do PT obstruíam as investigações.

Está mais que provado que a corrupção não começou nos governos de Lula e Dilma, esses apenas não a  abafaram sem poupar nem os do próprio partido.  Caso seja Dilma destituída ilegalmente – claro que com roupagem de “legalmente” – muito estranho será se, como num passe de mágica, assim que os golpistas assumirem o governo, a corrupção desaparecer do País e dos noticiários, a destacar  apenas os processos contra o PT, a fim de  legitimar a farsa. É bom que aqueles que vão às ruas para protestar por algo como o fim da corrupção – mas que na verdade poderão estar sendo usados para legitimar um golpe travestido de qualquer coisa que convenha aos conspiradores e por eles serem rotulados-, fiquem muito, mas muito espertos.

Finalmente, será um grande teste para o juiz Sérgio Moro provar que não é parcial, que só persegue petistas enquanto poupa os demais corruptos do  PMDB, PSDB, DEM, PPS, PP e etc, etc, etc, incluindo pastores sem voto de pobreza, como se pode interpretar. E além do teste de imparcialidade, ele, Moro, terá que demonstrar coerência a atuar com o mesmo ímpeto e rigor contra os políticos do Listão da Corrupção (recém-abafado), contra os do Panama Papers (onde figura até Joaquim Barbosa e a Globo) sob a pena dos ingênuos manifestantes anticorrupção voltarem  contra ele. A Justiça Maior – não a dos homens – poderá tardar, mas jamais falhará. E a Operação abafa a Jato poderá não vingar. Aguardemos.

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Frase de hoje (vale a pena repetir): “Aos amigos, as benesses da Lei; aos inimigos, o rigor da Lei”. É puro Brasil.

 

 

 

2 comentários

  1. Peter Willians Dario em 15/04/2016 às 00:18

    Parabéns, Antonio.
    Fantástico o teu post.
    Infelizmente saímos de uma ditadura militar e entramos numa ditadura parlamentar.

  2. Luis Fernando M F Arruda em 28/04/2016 às 00:56

    Muita gente acompanhou Plínio Salgado quando lançou o integralismo… seu lema era “A Deus Pátria e Família”. Muita gente também pegou de ouvido: “Adeus Pátria e Família”…
    Trocar o monte e deixar as moscas não adianta nada.
    Parlamentares se vendem… em geral, recebem muito mais do que valem.

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