ContraPonto: Retrato de Jesus
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Em dias difíceis como os que estamos a vivenciar, pouca esperança tem o homem de que a sociedade humana apresente algo melhor: que ela possa surpreender com uma volta triunfal da sensatez e da retomada de seu destino evolutivo no sentido de uma raça humana melhor, semeadora de paz e harmonia, e de vitória sobre tudo aquilo que traz sofrimento.
A render homenagem a todos os seguidores de Cristo, sinceros na busca e construção do mundo de justiça da pregação do grande Mestre, é reproduzido, abaixo, texto extraído de literatura apócrifa (aquela mantida na clandestinidade para não ser destruída por aqueles que, por interesses amplos e diversos, deturparam e continuam a deturpar a verdade sobre Jesus, o Cristo), escritos durante os séculos I e II. “O Retrato de Jesus” integra um conjunto de cartas entre Pilatos e Herodes e Pilatos e Tibério César, que fazia parte dos arquivos oficiais de Roma. Segue a descrição do retrato de Jesus em carta dirigida aos governantes de Roma e que se destinavam a lhes saciar a curiosidade em relação a Jesus de Nazaré-Jesus, o Cristo.
RETRATO DE JESUS – Carta de Lentulus publius, de Jerusalém, ao Imperador Tibério César:
“Eis aqui, enfim, a resposta que com tanta ansiedade esperáveis. Ultimamente apareceu na Judeia um homem de estranho poder, cujo verdadeiro nome é Jesus Cristo, mas a quem o povo chama de ‘O Grande Profeta’ e, seus discípulos, ‘O Filho de Deus’. Diariamente contam-se dele grandes prodígios: ressuscita os mortos, cura todas as enfermidades e traz assombrada toda Jerusalém com sua extraordinária doutrina.
É um homem alto e de majestosa aparência; sua face, ao mesmo tempo severa e doce, inspira respeito e amor a quem a vê. Seu cabelo é da cor do vinho e desce ondulado sobre os ombros; é dividido ao meio, ao estilo nazareno. Sua fronte, pura e altiva, sua cútis pálida e límpida; a boca e o nariz são perfeitos; a barba é abundante e da mesma cor dos cabelos; as mãos, finas e compridas; os braços, de uma graça encantadora; os olhos azuis, plácidos e brilhantes.
É grave, comedido e sóbrio em seus discursos. Repreendendo e condenando, é terrível; instruindo e exortando, sua palavra é doce e acariciadora. Ninguém nunca o viu rir, mas muitos o têm visto chorar. Caminha com os pés descalços e a cabeça descoberta. Vendo-o à distância, há quem o despreze, mas em sua presença não há quem não estremeça com profundo respeito.
Quantos se acercam dele dizem haver recebido enormes benefícios, mas há quem o acuse de ser um perigo para Vossa Majestade, porque afirma publicamente que os reis e os escravos são todos iguais perante Deus”.
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O CARDEAL DA RESISTÊNCIA
Símbolo da resistência à ditadura, dom Paulo Evaristo Arns, arcebispo emérito de São Paulo, morreu nesta quarta-feira 14 aos 95 anos. Denunciou a violência da ditadura brasileira pós 1964 e incentivou as Comunidades Eclesiais de Base. A exemplo do papa Francisco, foi um franciscano destemido que dedicou sua vida à defesa dos pobres e à justiça social. A denúncia da tortura e da perseguição política durante a ditadura está diretamente relacionada à sua pregação religiosa. Em 1966, dom Paulo tornou-se bispo em um momento de renovação na Igreja Católica. Quatro anos antes, o então papa João XXIII deu início ao Concílio Vaticano II, que buscava redefinir o papel da religião na sociedade, com foco em uma nova orientação pastoral voltada para a resolução dos problemas sociais e econômicos. No Brasil, a cartilha ganhou força após a Segunda Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano, realizada em 1968 em Medellín, na Colômbia.
As reuniões foram fundamentais para o desenvolvimento da Teologia da Libertação, preocupada prioritariamente com a promoção da justiça social, e para a consolidação das Comunidades Eclesiais de Base, que buscavam substituir a supremacia das paróquias na organização da vida religiosa pela valorização de comunidades menores, com a presença tanto de integrantes da Igreja quanto de leigos.
Dom Paulo tornou-se arcebispo de São Paulo em um momento crucial. Em 1969, um grupo de dominicanos foi preso pelo delegado Sérgio Fleury, do Departamento de Ordem Política e Social (talvez, possa-se especular, o Sérgio Moro da época, sob o ponto de vista da comoção popular de heroísmo, que bem claro fique e apesar da apenas coincidência do primeiro nome de ambos) sob acusação de manter laços com a Ação Libertadora Nacional, organização de luta armada comandada por Carlos Marighella.
Uma das lideranças dominicanas, Frei Tito foi brutalmente torturado. À época, dom Agnelo Rossi, então arcebispo paulista, preferiu não interceder em favor dos presos. A repercussão dos relatos de Tito publicados na Europa levou o então papa Paulo VI a substituir Rossi por dom Paulo no comando da Arquidiocese.
Pouco após assumir o cargo, dom Paulo não se omitiu ao tomar conhecimento da prisão do padre Giulio Vicini e da assistente social leiga Yara Spaldini pelo Departamento de Ordem Política e Social (DEOPS) em 1971. O sacerdote foi pessoalmente ao DEOPS e testemunhou as agressões físicas sofridas por seus colaboradores.
Dom Paulo denunciava as prisões arbitrárias, a tortura e o desaparecimento de perseguidos políticos após a aprovação do Ato Institucional nº 5, pelo regime militar.
A partir de 1973, o arcebispo passou a celebrar missas com forte conteúdo político. O assassinato pelos militares do líder estudantil Alexandre Vannucchi Leme, da ALN, foi respondido com uma missa-protesto na Catedral da Sé para contestar a versão oficial apresentada pela ditadura para sua morte, segundo a qual o estudante teria sido vítima de um atropelamento. Em 1975, o arcebispo organizou um ato inter-religioso em homenagem a Valdimir Herzog, torturado e assassinado pelos militares. A cerimônia serviu também para manifestar repúdio à versão de que o jornalista teria cometido suicídio.
Um de seus principais aliados no período como arcebispo da capital paulista, o bispo Dom Angélico Sândalo Bernardino afirmou que a resistência de dom Paulo à ditadura é uma inspiração para o atual momento frente às medidas impopulares defendidas pelo governo de Michel Temer, as quais sofreriam forte oposição do religioso. “Naquele tempo, a luta era contra a ditadura civil-militar, mas a resistência a que ele nos convida deve ser permanente no Brasil atual também.”
Em tempos de “padre-do-balão”; “padres-motoqueiros-do-bem”; “padres-cantores” (estes com altos faturamentos financeiros em seus shows musicais cuja quase totalidade vai para as suas contas bancárias, conforme amplamente noticiado em épocas não muito remotas); em tempos de padres celetistas sem a menor vocação e omissos às injustiças, a Igreja fica menor. A semente, entretanto, e como sempre, caída em solo fértil há de germinar.(Fontes: site da revista CartaCapital e pesquisas desta Coluna).
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APESAR DE…
Apesar da denúncia de Joaquim Barbosa de que o impeachment de Dilma foi uma farsa para tirá-la do comando do combate à corrupção no País e consequentemente abafar a Lava Jato; do juiz Sérgio Moro ter vetado perguntas importantes de Eduardo Cunha a Temer, ao ser convocado pelo ex-presidente da Câmara como sua testemunha de defesa. Apesar do STF ter sido totalmente desmoralizado no episódio de afastamento do intocável Renan Calheiros; do presidente do PPS, Roberto Freire- comunista de araque abrigado em meios reacionários- ter trocado seu belo cabide de emprego no governo Alckmim por um super-cabide em ministério do governo Temer, ao que se pode observar. Apesar da delação da Odebrecht sofrer tentativa de desmoralização e desqualificação; de políticos do governo federal e do governo de São Paulo envolvidos em corrupção, descaradamente e com a maior cara de pau, virem a público dizer que a corrupção é um câncer da sociedade (nos poupem!). Apesar do herói dos manifestantes que desde 2015 vão às ruas “contra a corrupção”, o juiz Sergio Moro, titular da 13ª Vara Federal de Curitiba, onde é responsável pelas investigações da Operação Lava Jato em primeira instância, ter sido flagrado em uma situação inusitada na noite de terça-feira 6, gargalhando ao lado do senador Aécio Neves (PSDB-MG), uma das figuras que mais apareceu em delações premiadas na Lava Jato. Apesar da traição da calada da noite e virada de casaca do Congresso Nacional contra a sociedade brasileira; do acordo entre STF e Senado para garantir permanência de Renan Calheiros na presidência do Senado Federal, como amplamente especulado; apesar da reforma da Previdência (que vai fazer você trabalhar mais) e de que podemos estar diante de um governo completamente tomado de corruptos a começar pelo denunciado Michel Temer, Feliz Natal, próspero ano de 2017 e boas festas a todos os leitores da Tribuna! Feliz Natal com espírito Crístico.
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Frase de hoje: “O importante é que a fé em Deus e as emoções sobrevivam”.
Nota: Esta Coluna volta em janeiro de 2017. Muito obrigado aos caros leitores que nos prestigiam e entendem o nosso propósito.