A Copa e as críticas

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Logo mais, estaremos (estaremos?) todos envolvidos pelo espírito esportivo de mais um mundial. A “pátria de chuteiras”, como dizia o saudoso comentarista Nelson Rodrigues, com o povo torcendo pela nossa seleção.

Mas, para chegar até aqui, neste pouco efervescente clima de Copa do Mundo, um longo caminho foi percorrido e o povo demonstrou uma sabedoria louvável. Entre protestos e manifestações, ficou claro que nem só de ufanismo nos gramados vive a nossa nação. Palmas para quem compreendeu que ainda temos gritantes injustiças sociais e problemas graves para resolver.

Há muito mais coisas entre o céu e a terra do que samba, praia, mulheres de biquíni, cerveja, cachaça, bola rolando, craques de brincos e cabelos espetados, cartolas comandando o show, e a onipresença de ex-jogadores que, segundo seus pares, seriam poetas se ficassem de boca fechada.

Quem havia dito que “Copa do Mundo não se faz com hospitais e sim com estádios” parece ter refletido melhor. Menos mal. O país carece de cabeças pensantes, de pessoas inteligentes, com luz e conhecimento acerca dos diferentes setores do cenário nacional.

Mestre Zagallo não deixou por menos e botou a boca no trombone, revelando uma saudável lucidez política. Em anos idos, disse ao povo: “Vocês terão de me engolir”. E se foi humanamente indigesto, salvou-se de qualquer forma, por seus longos anos de serviços prestados ao futebol brasileiro.

Zagallo deu uma entrevista a um jornal carioca e saiu-se com estas palavras que percorrem a internet e incendeiam os “feicebuques” da vida: “As bandeiras não tremulam, apitos, camisetas estão encalhados nas lojas. O Brasil, às vésperas da Copa, não está vibrante em verde e amarelo. O Brasil está vermelho. Vermelho de vergonha. Vermelho de ver tanta corrupção. Vermelho de ver tanta maracutaia, tanta cara-de-pau dos governantes. Estamos vermelhos vendo grande parte de nossos políticos e poderosos sendo calados e comprados pela corrupção. O PT conseguiu tirar o brilho até do que o brasileiro mais gosta… É o vermelho tingindo de corrupção nosso verde e amarelo”.

Talvez o nosso coração esteja mesmo solidário com os milhões de brasileiros que esperam mais deste governo. Saúde, transporte, moradia, educação. Um povo que saiba ler e escrever, fazer as quatro operações, conforme sonhava Darcy Ribeiro.

Mas nem tudo está perdido. Ainda que as arenas não estejam prontas e algo fora de controle possa tirar o brilho da festa, resta-nos o esforço de passar ao mundo uma imagem de país hospitaleiro, sério e competente. Afinal, o evento da Copa tem sua importância, trata-se de uma modalidade esportiva que é a paixão do brasileiro e pode ter uma função social digna. Os campinhos de várzea se multiplicam em cada canto, atraem milhares de meninos que podem ter suas vidas transformadas para sempre.

Mas, já se fala em recolher os mendigos de algumas capitais e vedar com tapumes os lugares feios, esgotos a céu aberto, obras inacabadas, aquela maquiagem de praxe.

E la nave va…

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