De novo a barragem de Santa Maria da Serra!?

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downloadA barragem de Santa Maria da Serra, ameaça fantasma que nos ronda há bem mais de uma década, a vemos econômica e ambientalmente como inviável. Seria um desastre (guardadas as devidas proporções) tão terrível quanto um Belmonte para nossa região, e menos justificável ainda do que aquele. Plano irracional que soa eleitoreiro também. E não há estudos, nada escrito, nenhum projeto, nenhuma avaliação que se conheça, a menos que seja ultra secreto, talvez o Obama saiba alguma coisa sobre. A SODEMAP (Sociedade para a Defesa do Meio Ambiente de Piracicaba) tem procurado e fuçado, mas nada encontra de concreto. Barragem virtual e flutuante na imaginação de alguns. Delírio barragiano semi-coletivo, recorrente e arraigado que assola a cidade e entorno.

Debruçamo-nos sobre o assunto no passado, há mais de dez anos. Havia, na ocasião, uns documentos vazios e mal-feitos; nem EIA RIMA foi mostrado. Houve uma audiência pública; tudo era tão descabido que o assunto foi sepultado. Agora nada de estudos há, mas vêm essas notícias anunciando noivado e casamento entre governo Estadual e Federal por causa de um dote enorme que estaria disponível, exatamente para avarias e desastres antrópicos nessa região, coisa irresistível para os desenvolvimentistas sem norte. Aliás, contou-nos um digno promotor público que, no PAC (Plano de Aceleração do Crescimento), até projeto para usina nuclear próxima de nós existe! Vão vendo… Aí barragem ser fichinha. Ou melhor, são cifrões caindo ante os olhos de alguns, com sons clássicos de máquinas registradoras, como se fossem personagens de desenho animado, já que todos parecem gostar muito de administrar bilhões, mesmo que para o péssimo ou para o pior. E nós, o boquiaberto público manipulável, desinformado, anódino.

Empregar-se tanto dinheiro, destruírem-se centenas de hectares das poucas matas que ainda temos, as últimas várzeas do Tietê e seus ecossistemas, desalojarem-se comunidades, aumentar-se o risco de enchentes em Piracicaba. Tudo isso, perguntamos, para transportar exatamente o que, naquelas poucas dezenas de quilômetros que seriam aumentados nesta forçada e caríssima hidrovia? O que exatamente, e de onde pra onde?

Como vêem, há algo de podre no reino da Dinamarca. Vamos acordar! Todo cuidado é pouco. Apesar dos absurdos, da falta de solidez, da incoerência da simples idéia de tal barragem ser construída, vá lá saber… Se sair poderá facilitar, e muito, o transporte de lixo perigoso clandestino, de armas e drogas para dentro de nossa cidade, já que aqui ainda não temos nada desses marcantes sinais de neo- modernidade das terras brasileiras. E sentimos falta deles, não é?

 

*Vice Presidente da Sociedade para a Defesa do Meio Ambiente de Piracicaba

8 comentários

  1. Ariovaldo Leite da Silva em 01/11/2013 às 11:23

    Sodemap serve para que?

    Li carta enviada por uma tal Eloah Margoni e ela serve como exemplo para que possamos ver que entidades, orgãos sejam privados ou públicos e muitas Ongs são criadas e ao invés de promoverem algo útil para a sociedade, ficam procurando pêlo em cascas de ovos, atravancando nosso progresso. Peço a esta senhora que discorra sobre o assunto dizendo quais seriam as maléficas consequências que causaria a construção da barragem de Santa Maria e não ficar fazendo alusão a falta de EIA, Rima, etc…. Diga em termos práticos quais seriam as consequências, dona Eloah : Nossa vegetação que hoje é de 90% de cana de açucar ficaria debilitada? rs. Nossa fauna quase toda extinta por conta de queimadas da mesma sofreria por conta de mais água na região? rs….Diga o que fez esta Sodemap contra os usineiros que acabaram com nosso meio ambiente enfim. Senhora Eloah, está para ser desapropriada uma área entre Piracicaba e Rio Claro para a construção de um aeroporto regional, que tal a senhora já ir agitando aí contra a destruição de milhares de pés de cana de açucar que deverá acontecer ? Acho que a população merece pessoas capacitadas tecnicamente e com bom senso nestas Sodemaps da vida para poder avaliar os prós e os contras em determinadas iniciativas que visem uma melhoria em nossas infraestruturas viarias e energéticas, e não estas que ficam divagando nos conceitos ditados pela burocracia.

    • Eloah Margoni em 01/11/2013 às 23:51

      Sr Ariovaldo, claro que haveria muito para lhe responder; afinal a Sodemap existe há mais de 25 anos, é composta por pessoas idealistas que enfrentam lutas duras e derrotas sofridas, na linha de frente e por trás dos bastidores. Isso às nossas próprias expensas, e sem nenhum mesquinho interesse pessoal a salvaguardar. Mas o senhor…o senhor parece mesmo MUITO interessado na barragem não? De qualquer forma necessitaria estar mais bem informado, apenas para podermos começar a conversar…Leia com atenção o final do artigo, talvez esclareça-lhe alguma coisa. Ou não.

      • Antonio Carlos Danelon em 04/11/2013 às 12:55

        Creio que um projeto dessa envergadura careça de muito debate, técnico não sentimental. Conheço Dra. Eloah e sei de sua luta pela preservação do meio ambiente, que não vem de hoje. Respeito-a muito e admiro sua coragem. Sei também da luta solitária que os bravos voluntários da SODEMAP vêm travando há décadas nesse mesmo sentido. Pouca vitória e muitas derrotas. Temos muita torcida e poucos jogadores. Todo mundo quer um ambiente saudável, mas lutar por ele, isso é com os ‘ambientalistas’. A população deve ser sim informada de tudo e também consultada sobre a viabilidade da barragem, tão sonhada por políticos e empresários. Ora, político e empresário têm os mesmos interesses, que raramente são os do povo. Desde jovem ouço falar desse assunto. No entanto, até agora sobrevivemos sem ela. Será mesmo necessária? Aos políticos e empresários que insistem nesse projeto faraônico sugiro que primeiro pensem na erradicação das favelas do Estado de São Paulo, oferecendo a todos os paulistas que queiram condições dignas de vida. O que sobrar apliquem na recuperação e reinserção social dos presos, que cevamos nas cadeias. Melhorem a Educação, a Saúde e a Mobilidade Humana, o Metrô, as ferrovias. Favoreçam e incentivem a agricultura familiar, o empreendedorismo, o turismo sustentável, o lazer para todos e a capacitação técnica dos jovens. Depois disso construam a barragem. Tenho certeza que teremos de verdade o Estado mais satisfeito e desenvolvido do Brasil. Enquanto essa luxuosa obra for construída, paulistas permanecerão morando entre lixo e esgoto; as cadeias prosseguirão graduando criminosos; os professores continuarão fazendo greve e alunos sem saber interpretar um texto; o transporte púbico um caos e adolescentes se enterrando nas drogas. A conversa é sempre a mesma: geração de empregos, desenvolvimento, progresso, turismo, etc. No entanto, os fatos mostram que não são grandes empreendimentos que trazem desenvolvimento, mas os pequenos. Quem vai construir a barragem serão os pobres, principalmente nordestinos, que trocarão seus lares por insalubres alojamentos e certamente terão como salário não o justo, mas o que determinar o mercado, isto é os patrões. Quanto ao transporte mais barato pergunto por que os empresários e o Estado abandonaram as ferrovias? Foi por ‘respeito’ ao meio ambiente e baratear o frete? Por que o mercado imobiliário, os gestores públicos através de suas políticas de remendo e planejamentos amadores, o agronegócio – especialmente a cana – foram tão cruéis com a natureza a ponto de secar milhares de corpos d’água? Foi para baratear custos também? Parem de vender miragens e justificar o injustificável. Na verdade serão os ricos que gozarão do turismo náutico esnobando barcos, lanchas e agressivos jet-skis. Os pobres continuarão comendo frango com farofa, vendendo coco e churrasquinho na orla, e como sempre o custo de vida não abaixará com a barragem. Sabem por quê? Porque o coração dos poderosos não bate segundo a justiça, mas segundo o lucro. Por isso, o bolo pode crescer quanto for nunca será repartido com equidade. Em vez de grandes obras precisamos sim de distribuição equânime das riquezas, que são geradas principalmente pelos mais pobres. Depois, então, façam quantas barragens quiserem. Poderiam até aproveitar a ocasião e erguer um pateão com as estátuas dos políticos e empresários que fizeram o ‘pogresso de Sum Palo’.

  2. Eloah Margoni em 05/11/2013 às 16:56

    Antonio Carlos, uma frase de seu posicionamento bateu-me fundo de cara, entre tantas outras que também o fizeram. É a que diz ter você ouvido falar da barragem desde a juventude. Não é para menos; o projeto inicial da mesma remonta à ditadura militar! Estava no bojo dos mega projetos, extremamente dispendiosos e geralmente não racionais. Esse também é o caso da hidrelétrica de Belo Monte, que chamamos muitas vezes inadequadamente de “Belmonte”, sem que isso em nada mude o absurdo nem o desastre.

  3. Daiana em 12/02/2014 às 11:43

    Eloah Margoni,

    Dessa vez a barragem irá ser construída ou eles ainda não têm respaldo? Mais uma vez o assunto surgindo em tempos de eleições? Qual sua opinião?

    • Eloah Margoni em 15/02/2014 às 21:56

      A questão é que têm dinheiro. Tanto do governo federal, quanto do estadual, que se irmanam no desenvolvimentismo…Mas se depender da população ( que, agora, parece estar mais conscientizada) não o farão.
      O que não se pode é cruzar os braços, nem dar a questão como “fato consumado”.

  4. william em 16/10/2014 às 14:40

    A pergunta é alguém ai vive sem energia ?

    Segundo o pantanal que tantos fala só existe devido a barragem de barra bonita que faz parte do mesmo empreendimento.

    Terceiro quais ecossistemas temos ali sendo que quase toda a margem do rio tanto a esquerda como a direita e só cana as usinas acabou com as áreas verdes.

    Quarto no projeto você terá que deixar uma área de app de 100 metros da cota da barragem por toda margem.

    acho que vai preservar mais do que hoje e preservado no local

    • Eloah Margoni em 17/10/2014 às 17:44

      Vive-se menos ainda sem água, muito menos.
      Mas não dá pra gente discutir com quem não tem, no íntimo, o desejo da sustentabilidade ambiental e a convicção da necessidade desta! Pessoas que não valorizam esse princípio, teimarão, dizendo que os 45 graus centígrados que enfrentamos na primavera não são resultados de estripolias antrópicas, e sim idiossincrasias do Criador. Ou pior ainda; sabem que isso tudo é resultado da inépcia humana, mas acham que irão se safar; acham que o mundo se molda a seu míope egoísmo, que vão se dar bem…E mais, acham até que o Piracicaba ainda tem água, um caudal.
      Poupe-me, William!

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