De novo esse papo?

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Líder é aquele que faz novos líderes, melhores que ele. Pois não parece ser esse o forte do ex-prefeito Barjas. Seu afilhado político, Ferrato, vinha fazendo um bom governo. Porém, – segundo o próprio – sua trajetória foi podada pelo seu padrinho, que quer o trono de volta porque gosta do poder. Não duvido da idoneidade do ex-prefeito. É trabalhador e solícito. Porém, o modelo de cidade que tem na cabeça está vencido. O papa Francisco diz na encíclica “Laudato Si”: “Não é conveniente para os habitantes deste planeta viver cada vez mais submersos de cimento, asfalto, vidro e metais (…)”.

A campanha de Barjas olha para trás. Fez escolas, varejões, unidades de saúde, alargou avenidas, fez pontes, rotatórias. O hospital poderia estar na lista, mas preferiu viadutos. Pela ênfase que dá, antes dele Piracicaba deveria ser um sítio. Claro que fez coisas necessárias. Contudo, tinha que fazer mesmo. Pegou a economia bombando no governo Lula; no Estado, Alckmin, seu o metálico amigo reinava; ficou oito anos no poder e teve a maioria dos vereadores aos seus pés. Fez o que e como quis. Poderia ter se aproveitado da minguada oposição para agregar mais qualidade à sua gestão, porém tratou-a a pão e água, deixando claro seu estilo imperial e a fragilidade de seus projetos. Organizações comunitárias derreteram. Sua pusilânime Base Aliada, dominada por um fanático líder de governo, transformou a Câmara num apêndice do Executivo. Um enorme desperdício. Em vez de fiscalizar e discutir as coisas, os vereadores passaram a correr atrás de lombadas, moções de aplauso e outras desnecessidades.

Trouxe empresas para a cidade, e com elas um monte de gente precisando de casa, creche, médico, segurança, etc. Como nada foi programado, vimos surgir de repente uma cidade média com problemas de metrópole. Carros entupiram vias, a violência explodiu, moradores de rua brotaram como tiririca; invasões de áreas verdes, falta de vagas em creches, transporte público insuficiente, UPAs lotadas, PSFs sem médico, especulação imobiliária, dengue, falta de leitos nos hospitais, presídios, perímetro urbano aumentado segundo interesses imobiliários, sem planejamento algum e sem consultar a população. A praga dos condomínios fechados – coisa da Idade Média – se espalhou. Basta memória ou ver os jornais da época. Agora vem ele com as mesmas propostas baseadas em opiniões empíricas e não em dados técnicos e diagnósticos consistentes que dormem nas gavetas do poder público. “Para essa nova gestão, ele afirma vir com novas propostas, discutidas com mais de 150 pessoas da sociedade e que resultou na elaboração do plano de governo”. (Gazeta de Piracicaba, 18.09.16). Ouvir a massa é preciso, contudo, distinguir do que pede o que precisa demanda feeling.

De novo esse papo do tempo do Guidotti que é preciso alargar avenidas porque “nos próximos dez anos a cidade terá em circulação mais de 80 mil veículos”. “A propaganda de carros continua oferecendo virilidade e glamour, enquanto entrega congestionamento, estresse, doenças e aquecimento global”. (Leão Serva, Folha 26.09.16). Só numa sociedade tosca como a piracicabana automóvel é valorizado. Quem tem que se locomover é o cidadão, não o carro. Quantas ciclovias foram feitas? Deficientes e idosos conseguem transitar sem ajuda pelas nossas calçadas? Ademais, um gestor minimamente informado investe no coletivo. O sonho do cidadão é deixar o carro em casa. Mas não para perder duas ou mais horas diárias de vida dentro de ônibus. No meu bairro, por exemplo, o ponto mais perto fica há 500 metros de distância morro acima. Dá pena das idosas e grávidas.  Pedido já foi, mas falta sensibilidade.

Dizer que a cidade precisa crescer ainda mais é uma irresponsabilidade. Para ser sustentável, crescimento carece limite. Qualidade é que importa. A cidade que sonho é aquela aonde seu povo tenha saúde, bem estar e muito verde; que se entenda e viva em harmonia. Piracicaba já foi assim, mas desviaram seu destino.

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