Descansar

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“Não se prive de um dia feliz, nem deixe escapar um desejo legítimo. Por acaso você não vai deixar para os outros o fruto de suas fadigas, e não vai ficar para os herdeiros o fruto dos seus sacrifícios?” (Eclo 14, 15).

Dizem que somos povo preguiçoso e temos feriados demais. Só miolo de louro repete chavões como este, inventados justamente pelos que mais parasitam este pródigo país: políticos de modo geral e a xucra elite brasileira. “O custo do trabalhador brasileiro não é uma dos maiores do mundo como dizem alguns. Os diversos direitos trabalhistas incidem sobre um dos menores salários médios mundiais. (…) Crescimento econômico não traz necessariamente desenvolvimento social. (Marcus Orione Gonçalves Correia – Juiz Federal em São Paulo e professor da USP. Folha 31.01.l0). “O Brasil aceita jornadas de trabalho que na Europa seriam obscenas”. (Alexandre Teixeira jornalista).

Muitos países trabalham dia e noite, sábados e domingos. Progrediram sim, porém não são felizes. “(…) na Coréia do Sul, hoje um dos países capitalistas mais florescentes, a quantidade de trabalhadores que se suicida é espantosa. (…) por que se matam? Certamente porque não são felizes naquele paraíso capitalista”. (Ferreira Gullar Folha 06.10.13). “Devemos ter cargas horárias mais humanas, para que os pais possam voltar para casa antes de os filhos dormirem. A Europa tem dias mais curtos e igual produtividade. (Janet Flammang cientista política da Universidade Santa Clara).

O que trava o Brasil não são os feriados, mas a mesquinhez do empresariado, que quer ficar rico do dia pra noite; o proposital impedimento da população à informação; a safadeza de políticos, o custo exagerado da ineficiente máquina pública e a concentração da renda. Li dezenas de notícias relatando trabalho escravo na lavoura de cana e na construção civil em Piracicaba. Foram interditados pelo Sindicato alojamentos com trabalhadores sem registro vivendo amontoados sob calor excessivo, fazendo suas necessidades em latas de tinta, dormindo no chão entre ratos e cozinhando em fogões rústicos; muito lixo, falta de armários e de energia elétrica. “Segundo o CEREST foram 10.490 acidentes em 2013. Nos primeiros três meses deste ano já somam 2.711. Nos últimos 15 meses 10 trabalhadores morreram.”. (A Tribuna 26.04.14). “Construção civil lidera analfabetismo. Setor soma 80% do total deste grupo”. (JP 23.03.14). Isso se chama desrespeito, e desrespeito gera violência. Portanto, não enganem a população com câmeras de vigilância, polícia, UPPs, helicópteros, presídios, etc.

Se trabalhar bastante enricasse, os negros, que trabalharam durante 400 anos sem trégua, seriam milionários. Portanto, o “zé-povinho” pode trabalhar à exaustão. Quem ficará rico não será ele e nem o Brasil, mas a minoria de sempre, que explora seus semelhantes e devora o planeta.

Na verdade o povo trabalha sempre. Afinal não é o rico que recolhe lixo, dirige ônibus e caminhão; dá aulas na periferia, caça bandido, desobstrui esgoto, liga rede elétrica, constrói casas e estradas; ara a terra, cuida de crianças e doentes; lava banheiros, trabalha à noite e se derrete nas cozinhas dos chiques restaurantes. Sei que existem serviços essenciais e de pequenos empreendedores que dependem de seus negócios. Porém ninguém é máquina.

Quando era criança havia mais feriados que agora. Aos domingos quase nada era aberto e durante a semana até o horário de almoço era respeitado. Ninguém tinha Bolsa Família e nem morava em favela.

Piracicaba era mais pobre, mas a vida era muito mais rica.

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