E O PAPA, HEIN?!
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Batinas turbinadas, clergymans alvoroçados, beatério de terço na mão! O Francisco virá? E o que farão dele? Sairá ileso?
O Francisco é o Chico papa, o Chiquinho ou Chicão argentino. O brasileiro esculacha de cara qualquer celebridade. Inclusive, e por que não? o Papa. Destitular para tornar mais próximo, menos protocolar, menos burocrático.
Com certeza, ele virá. Já está de malas prontas. O papa- móvel e o jipe-nem-tanto, já estão aqui. E pelo que já fez e aprontou, mostra que não é homem de arredar o pé, de amoitar. É gaúcho dos pampas argentinos. Puro sangue latino. Não foge da raia. Mesmo em meio à agitação que sacode o Brasil, o Papa Bergoglio se sentirá em casa. Ele é cria de movimentos que tais na terrinha dos Perons e Kirchners .
Há o remoto risco de, esgotados os principais totens contra os quais se insurgiu parte da sociedade, alguns atrevidos queiram usar a força simbólica do Papa para fazer dele o bode expiatório da hora. Afinal, a insurreição popular se concentrou em torno de alvos concretos, de forte teor simbólico: contra o poder político, na depredação de prefeituras, câmaras, e a tomada do Congresso Nacional. Contra o poder econômico, no quebra-quebra de bancos, lojas e caixas eletrônicos. Contra o poder social, no banimento dos sindicatos, partidos e lideranças institucionalizadas.
Faltou o poder religioso. Ao que se saiba nenhum templo, nenhuma igreja-católica ou não, foi depredada. A insatisfação popular não chegou às vidraças de um suntuoso templo religioso.
Na pior das hipóteses, no reboliço das confusas reinvindicações, na diversidade e multiplicidade das atuais expressões religiosas, de repente o espaço para exteriorizar o ranço sufocado de tantos séculos de monopólio da Igreja católica e se use o Papa Francisco como saco de pancada. Claro que é puro desvario. Devaneio perverso. Profeta da desgraça. Mas, a sociologia nos leva a analisar os fatos sociais tanto na perspectiva da sacristia como pelos óculos do bordel.
No fundo, todos torcemos pelo lado melhor. Pelo otimismo. Pelo sucesso. Confiar no jeitão brasileiro de crer, no seu respeito ao sagrado, na sua admiração pelas pessoas que o representam. Até mesmo pelo medo ou temor que o sagrado inspira. Imagine bater num padre, num pastor, num pai de santo, mesmo que o mereçam… azar por sete anos! Desrespeitar um papa, então, não tem perdão!
Há uma fundada esperança de que a presença, a palavra e o testemunho desse Papa não servirão à desmobilização das forças emergentes da sociedade insatisfeita. Ele mesmo critica veementemente a corrupção, a roubalheira, o neoliberalismo, a começar do próprio Vaticano. E reafirma que “a Igreja tem que ser pobre, dos pobres e com os pobres”. E ele mesmo tem dado testemunho disso.
Tomara que o Papa Chico dê um vivo testemunho dessa pobreza: ao vir ao Brasil, venha como passageiro comum, na classe econômica, ou “classe-mano”. Dispense avião especial, classe executiva, ou primeira classe. Venha na “classe-mano”, bem exprimido entre passageiros sufocados pela escassez de espaço. Amém!
Pe. Otto Dana – Pároco da Igreja Sant´Ana em Rio Claro-SP- e-mail: [email protected]