ESPARTA E ATENAS

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29_bigQuando de manhã logo cedo vejo mães levando filhos, alguns ainda dormentes, outros na marra e outros na base da chantagem para a creche, logo me vem à mente Esparta, uma cidade da Grécia Antiga, fundada no século IX a.C.

O princípio da educação espartana era formar bons soldados para abastecer o exército. A partir dos sete anos de idade as crianças eram entregues à orientação do Estado. Levavam vida austera, realizavam exercício de treino com armas e aprendiam a tática de formação. A menina também passava por treinamento militar e muita atividade física para gerar filhos fortes para o exército. Do nascimento à morte, o espartano pertencia ao Estado. Foi uma cidade que dispôs de grande poder e sucesso, mas acabou responsável por sua própria queda, devido a um sistema social incapaz de aceitar as mudanças naturais do mundo ao seu redor. Foi destruída em 395 d .C.

Por outro lado havia Atenas, talvez a principal cidade da Idade do Ouro grega. Tornou-se centro cultural, artístico e intelectual do Ocidente. Atenas, chamada berço da democracia, primou pelo conhecimento ativo, filosofia, ciência, artes e pela liberdade das idéias. Foi derrotada por Esparta na Guerra do Peloponeso (431 – 404 a.C.), mas se reergueu. É a atual capital da Grécia.

Tem a ver uma coisa com outra que cada vez mais pais estão delegando ao Estado o cuidado, a educação e a formação dos filhos. A maioria quer nem saber. Sequer às reuniões comparecem. Quando botam a cara na escola, se não for por convocação devido a problemas de comportamento ou rendimento dos filhos, vão para tirar satisfações por coisas das quais a criança se queixou ou mesmo inventou para ganhar um pouco de atenção.

Lembro-me fala de respeitada diretora de escola infantil sobre a diferença entre crianças que ficam – refiro-me ao espaço da Educação Infantil – o dia todo na escola, das que ficam o período oposto com os pais e das que o mesmo período ficam sozinhas em casa ou aos cuidados de parentes e terceiros.

Grosso modo falando, suas observações – empíricas é claro – mostraram que crianças que ficam um período na escola e outro com a família, são mais ponderadas, afetuosas, responsáveis e tranquilas. Já as que ficam o mesmo período com terceiros ou sozinhas apresentam-se descuidadas, agitadas, carentes, desmotivadas e difusas.

Quanto às que ficam período integral são – de modo geral – mais participativas, disciplinadas, colaboradoras, independentes e aprendem rápido, porém apáticas. Acontece que tudo já está pensado para a criança e para ela preparado: conhecimentos, valores, sentimentos, comida, brinquedos; hora do sono, do banho, de brincar, reencontrar os pais, etc. Segundo Rosa Cukier – psicóloga PUC “Desde pequena é forçada a comportamentos que agradam e recebem aprovação dos adultos”. Terá essa pessoa preparo para ouvir seu interior, conhecer seus talentos fazer opções livres, se responsabilizar por si e pelo seu entorno e construir o próprio destino?

Ora, que cidadão poderá esse método espartano de educação produzir, senão aquele que nosso sistema sócio-político-econômico e cultural valoriza e a indústria tanto procura condicionado que foi a seguir rotinas e regras, cujos nefastos efeitos chegam até a aposentadoria comprometendo sua qualidade?

Pelo fruto se conhece a árvore. Vejo pessoas sobrecarregadas, descontentes, amedrontadas, desesperançadas, endividadas e cada vez mais isoladas. Nossa geração é feliz? Dominamos altas tecnologias, porém vivemos relações dos tempos das cavernas. “No mundo há duas forças, a da espada e do espírito; a força do espírito acabará vencendo a força da espada”. (Napoleão Bonaparte).

Ora, Esparta afundou. Atenas ainda está lá.

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