Esperando o Natal …

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Passam os anos e o coração bate mais forte, e o pensamento é mais profundo, embrenhando-se nessa maravilhosa e sábia simplicidade de um recém-nascido enfaixado e deitado numa manjedoura! Quantas lições, atravessando os séculos, quantos acontecimentos, quantas identificações se as procurarmos, desse Deus que desejou ser pobre entre os mais pobres, desse Deus que tanto fez e faz, desse Deus que tanto insiste sem obrigar, em respeito ao nosso livre arbítrio, a nossa liberdade, desse Deus de tantos e prodigiosos sinais de consolação e de ternura, que os cegos que não querem enxergar, os surdos que não querem ouvir e os incautos, montados em sua arrogante auto-suficiência se recusam aceitar!

E os contrastes mais e mais se avultam, gritantes e disformes, ante esse Deus no presépio,despojado, humilde e pobre, cujas lições principiaram com seu nascimento e perduram para sempre a quem deseja participar do seu banquete verdadeiro, do seu Natal! Naquele menino envolto em faixas, a primeira lição é a da vida que deve ser preservada e proclamada bem alto, inalienável e única, contra todo absurdo de uma lei humana que se arroga o direito de matar; naquela criança, pequenina e indefesa, a necessidade de ajuda e de proteção a todos os pequeninos; na pequena família de Nazaré- Jesus, Maria e José – o exemplo de um Deus que desejou encarnar-se dentro de uma família unida e forte, a importância dessa constituição, primeira célula a ser construida no amor recíproco e na doação, causa e fundamento da formação de uma sociedade.

Lamentavelmente, na atual realidade, as inversões dos valores e as contradições da conduta humana, apontam terríveis carências em que a maior é a de Deus e o desprezo por suas leis e lições..

No século da modernidade e do avanço brutal da ciência e da tecnologia, o ser humano, em contrapartida, regride e apequena-se; homens e mulheres trazem na expressão os estigmas do descontentamento, da frustração, da ausência de objetivos saudáveis e harmoniosos. doenças provindas de mentes doentias e de causas psicossomáticas proliferam, bem como os fantasmas imaginários, os medos incontroláveis e as situações estressantes que, muitas vezes desabam nas loucuras, nas violências , nas drogas e nas tragédias irremediáveis.

De um lado, as casas, os condomínios e os logradouros públicos iluminados e feéricos, a posse material e espalhafatosa das árvores de natal deslumbrantes, do papai- Noel espaçoso que roubou de Jesus o seu lugar, dos núcleos familiares de horários que não se encontram, do trânsito congestionado e barulhento, dos apressados, entregues ao consumo desvairado e inútil, a uma agitação sem objetivo e sem causa ; do outro lado e cada vez mais próximo o espetáculo da miséria dos marginalizados, dos moradores de rua,da velhinha doente com as pernas inchadas e encaroçadas, à frente de um super mercado a pedir um dinheirinho ou um pão para matar a fome.

Mas o Deus da misericórdia, do perdão e do amor não desiste. A cada ano Ele quer nascer de novo nos corações, a cada ano Ele nos repete, insistente, suas lições eternas e milenares: a de que, se quisermos participar de sua festa e de seu banquete precisamos ser pequenos como as criancinhas, a de que devemos ser bons e puros de coração, a de que o seu fardo é leve e seu jugo é suave. Ele mesmo nos diz como num estribilho:“Tive fome e me destes de comer; tive sede e me destes de beber; era estrangeiro e me acolhestes; estava nu e me vestistes; estava doente e me fostes visitar; estava na prisão e viestes a mim!” E na identificação tão bela com cada um de nós, Ele vai acrescentar na mais profunda de todas as lições: “cada vez que fizestes isto a um destes pequeninos que são meus irmãos, foi a mim que o fizestes.”

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