Francisco

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Francisco nasceu em 1182 em Assis, na Itália. “Depois de Maria de Nazaré é o mais grandioso santo do calendário cristão e um dos homens mais influentes de toda a história da humanidade”. (Chesterton).

Filho de homem rico, Francisco, cujo nome de batismo era João, tinha pela frente um futuro promissor como herdeiro dos negócios do pai. Era habilidoso em ganhar dinheiro, porém, irrefletido para gastar. Desapegado, seu maior prazer era se ver rodeado de extravagantes companheiros. Era pródigo e generoso até com os mendigos de Assis.

No entanto, sua alma de cativante menestrel foi se cansando. Queria algo maior. Uma doença grave foi a fresta que Deus achou para entrar naquele generoso coração. Um dia, perto dos 24 anos, arrancou a roupa do corpo, jogou-a aos pés do pai – com quem tinha tido memoráveis brigas por causa do seu jeito esbanjador – e saiu atrás do seu sonho.

“Meu Deus e meu tudo”, dizia Francisco. No seu caso descobriu que para ter a mais profunda alegria precisaria ser plenamente livre e abandonar-se totalmente nas mãos da providencia divina, que até dos pardais cuida. Portanto, desvencilhar-se das amarras do ter era indispensável. Apaixonou-se pela Dona Pobreza, como dizia. Vestiu um surrado hábito e andava pelas ruas de Assis esmolando, abraçando mendigos e leprosos e reconstruindo igrejas. O filho de Pedro Bernardone enlouqueceu, falavam.

Atraídos pela loucura desse trovador de Deus, seus antigos amigos de farra, também cansados da vida fútil que levavam foram atrás dele. Até mesmo sua grande amiga Clara, a mais bela jovem de Assis, deixou tudo para segui-lo, apesar da violenta resistência dos pais. Abrindo mão de qualquer conforto, formaram uma comunidade de despojados. Então a felicidade chegou com alegria, muita alegria, que contagiou a cidade toda.

Inteligente, caiu fora da insana engrenagem que a sociedade insiste em girar, acreditando que o progresso material consegue responder aos profundos anseios da alma humana. Poderia ter optado pela loja do pai e teria sido um João qualquer enterrado pela poeira do tempo.

imagesO coração de Francisco atingiu o que cabe de plenitude num coração humano, que quanto mais humano mais divino se torna. Por isso, virou irmão universal, cuidador da criação. Irmão sol, irmã lua, estrelas, vento, água, fogo, irmão ladrão, irmã morte. Mãe Terra. Tornou-se elo de ligação e assumiu sua responsabilidade no justo equilíbrio das coisas. Francisco amava cada árvore da floresta como criatura bendita e se precisasse arriscaria a vida para defender uma só ave. Amava cada pessoa e a todos tratava como se ele, Francisco fosse o último e mais indigno de todos.

“No dia três de outubro de 1226, já cego e doente pelo muito que exigiu de seu corpo ao qual pede desculpas, roga que o depositem na terra nua. Nesse momento, um dos irmãos vê de repente sua alma, como uma estrela subir ao céu. Tinha quarenta e cinco ou quarenta e seis anos. O funeral foi a quatro de outubro. Depois de uma parada em San Damiano, onde Clara cobre de lágrimas e beijos o corpo de seu celeste amigo. Foi enterrado provisoriamente em San Giorgio”. (Jacques Le Goff).

Hoje, muitos seguidores de São Francisco, instalados em confortáveis e seguros conventos, filhos pobres de congregações ricas, neutralizaram o impacto revolucionário e desconcertante de sua mensagem. Deixaram que esse homem extraordinário fosse transformado num inofensivo santo proteger dos animais, se bem que os animais mereçam mais que nós.

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