Gestos de amor

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gesto de amorA vida vale cada minuto, cada ato respiratório na subida íngreme da rua, que nos cansa um pouco.  Logo depois, a descida alegre, com o vento batendo na face. Vamos entrar no nosso carro e voltar para casa.

Voltar para casa no final do dia! Ligo o rádio do carro e é uma emissora que toca músicas maravilhosas. Volto sonhando, rezando, agradecendo, louvando. Às vezes, fico em lágrimas. Se o dia foi bom e a aula de Pilates feita com empenho, sinto-me em estado de graça.

Dentro do carro, num horário em que todos estão retornando para seus lares, é preciso paciência no trânsito. O rádio canta “all you need is love”. Beatles forever. Sim, tudo o que você precisa é de amor. Meu coração quer saltar do peito e eu o acalmo. Ele sofre por antecipação. Haverá paz quando eu chegar em casa, ou latidos? As palpitações começam pela angústia que o temor me causa…

Mas chego e, louvado seja Deus, há paz. Há o silêncio salutar de que todo ser humano precisa para descansar. Não é a toa que a letra de uma música lindíssima diz: “É preciso amor pra poder pulsar / é preciso paz pra poder sorrir / é preciso a chuva para florir”. Sem paz não há sorriso. Uma alma sofre pela falta de paz. A paz é fruto da justiça. Se a humanidade um dia compreender isso, estaremos todos salvos.

A vida vale cada momento de inquietação e de coragem. Vale por aquilo que lutamos, ainda que seja pelo silêncio à nossa volta, no lugar onde moramos. A vida vale cada átimo de beleza, vale toda a nossa fé e nossa esperança.

Tudo passa tão depressa e perdemos momentos preciosos. Estar com quem amamos. Ajudar, ouvir, oferecer nosso tempo. Um amigo que eu ia conhecer pessoalmente faleceu antes disso acontecer. Morava em outro estado, me escreveu durante anos, no tempo das cartas. Depois, nos encontramos pela internet. Nos e-mails, me contava da vida. Sozinho novamente desejava muito se casar, e viajava para onde fosse preciso a fim de conhecer a futura noiva. Nada dava certo. Eu o consolava e, conversa vai, conversa vem, manifestou o desejo de vir a Piracicaba, passear um pouco.

Numa das últimas mensagens contou que faria uns exames.  Não entrou em detalhes. E se calou. Nenhum sinal mais. Tentei contato de todos os modos, até que vi as condolências na sua página do Facebook. O câncer o levou como tem levado a tantos. É insuportável assistir à partida de amigos queridos, de familiares, de gente que conhecemos pelas redes sociais e que partilha sua luta, sua bravura, sua vontade de viver.

Adeus, amigo querido. Era um gesto de amor te ciceronear pela minha cidade. Não deu tempo…

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