Inspiração

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Foto: Reprodução Google

Às vezes, dependendo do dia, sinto-me profundamente inspirada. Até para cometer um poema. A poesia será sempre necessária, embora seu prestígio ande em baixa. Já viveu dias melhores. Sim, também ela não passou imune à crise… Sofreu algum abalo. Não sei se do ponto de vista estilístico, literário ou poético mesmo.

Os poetas são mesmo as antenas da raça. Captam o cotidiano melhor que ninguém e sabem fazer profecias admiráveis. Admirável novo tempo. Poeta é uma raça em perigo de desaparecer. E que alegria, que fascínio quando descobrimos um. Lemos com paixão. É disto que vos falo. Paixão pela vida, seja como for, a poesia sempre deixará sua palavra marcada a ferro e a fogo nos corações.

Mas eu me referia ao fato de estar inspirada. Tenho aqui, numa agenda física, algumas frases e pensamentos acerca deste fato abençoado: estar sob o signo da inspiração. Ah, este dom é coisa dos deuses. Quem escreve, sabe bem disso. Quem trabalha em algo apaixonadamente também sabe. Quem lida com a arte, com a criação, com o sonho. Quem lida com a engenharia das coisas.

Quando não estou inspirada para redigir um texto, peço ajuda aos anjos. Um recurso bom é contemplar o céu. De dia ou de noite, o firmamento me diz coisas e me alimento de um material de grande variedade. Porém, nem tudo é aproveitável. É preciso autocrítica constante, vigilante, para não cair no lugar-comum da obviedade e do previsível.

Então, ali, olhando o céu, quase sempre surge algo produtivo. Aos poucos, as ideias surgem como pingos de chuva, batendo na vidraça de uma casinha no campo. Pronto. Pingos de chuva, casinha no campo. Ah, a chuva benfazeja da qual precisamos tanto! Li o texto de um biólogo e climatologista a respeito das chuvas. Afirma ele que, com a devastação do cerrado no centro-oeste, a chuva aqui no sudeste irá acabar, ou haverá drástica escassez. Temos informações de que nossa região, em Piracicaba ou cidades vizinhas, já apresenta problemas de escassez e vivemos uma crise hídrica. É mesmo preocupante o prognóstico deste biólogo.

A vidraça da casinha no campo. Sim, uma janela, um janelão, daqueles bem antigos, com grandes vidros, de onde se pode avistar a área externa, talvez um jardim, quem sabe um pomar. Ou simplesmente alguma paisagem bonita, um pasto longínquo, a serra ao longe, campinas, os quadriláteros verdes e retos das plantações.

Se isto não inspirar alguém, estamos seriamente perdidos. O bucolismo do campo será eternamente inspirador para mim. Tanto, que cogito voltar para lá, se me for possível. Voltar para algum pedaço de terra, onde se pode descansar o corpo numa casinha gentil com varanda. Nada supera a beleza campesina. Sim, vejo encanto nas cidades também. Há graça e força no casario, nas praças e jardins públicos. Aprecio a lógica das construções e das ruas que se abraçam umas as outras, as esquinas do mundo e suas impressões.

A vida é inspiradora. Viver é ato de legítima inspiração. Respirar é inspirar-se a cada sístole e a cada diástole. Dizia o saudoso padre Leo, da comunidade Canção Nova que, naquele tum-tum-tum, Deus está nos dizendo: “Eu te amo, Eu te amo, Eu te amo”.

Bonito demais? Eu também acho. Ainda mais se pensarmos que Deus sonda os corações e conhece a cada um. Conhece o barro de que somos feitos. Conhece a reta intenção com que trilhamos nossos caminhos. A vida e a arte serão sempre insuperáveis. Talvez só a vida não baste mesmo. Será preciso a arte para completar tudo o que nos falta e que não somos capazes de definir.

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