Inspiradora vida

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A vida é o que me inspira. Lembro a escritora Clarice Lispector, ao afirmar que não se acostumava a uma vida fácil. De fato, acabamos nos adaptando às múltiplas dificuldades da nossa caminhada e, num dado momento, se tudo parecer fácil ou simples demais, o santo desconfia…

Quem já se acostumou a lutar, sentirá falta da peleja diária se, de repente, as coisas começam a ficar suaves demais pela estrada a fora. As repetidas tensões do cotidiano formam em nós a espada necessária para combater o bom combate. Terminar a corrida, guardar a fé.

Antes de me deitar, tenho o hábito de rezar na lateral da cama, de joelhos. De mãos juntas e os dedos entrelaçados, deposito toda minha esperança na oração. Nada pode perturbar a concentração desta hora. Ali, repasso o meu dia, o que fiz e o que deixei de fazer. É quando o sentimento de vida bate mais forte no peito.

Um amigo querido, sabendo da mulher rezadora que eu sou, tem dúvidas sobre isso, se Deus ouviria nossas preces. Ele acha que o Senhor é ocupado demais para ficar prestando atenção ao que rezamos ou pedimos. Respondo que o Todo-Poderoso é onipresente, está em toda parte, e tem ouvidos sensíveis.

Enfim, sou movida à vida. Vida é o que me encanta e desencanta. Por mais trágicos pareçam os dias e brutais sejam as notícias, a esperança sobrevive na centelha viva do nosso anseio. Assim, tal a atriz Marieta Severo, também quero ser otimista e esperar que tudo melhore em nosso país.

Mas, em se tratando da vida, digo sempre que monto campana. Em geral, estou de vigia, esperando pela beleza. Não dorme quem guarda Israel. Não durmo eu, sentinela das coisas profundas. Começo pelas mais simples, as que chegam primeiro ao coração.

Especial é o momento em que captamos a beleza do invisível, a nobreza do que nos arrepia, a sensação de que o corpo ultrapassa a si mesmo, qual um cavalo solto na planície. Então, de minha parte, busco vos dar isso: um texto que represente a redenção. Um poema de vida e de morte. Algo muito óbvio, muito evidente, necessária redundância dos tempos.

Por amor à vida, estou disposta a negociar qualquer coisa em troca da beleza. Aquilo que nos toca a alma: sabedoria, liberdade, inteligência. Que as seduções passageiras deste mundo não nos afastem da verdadeira vida, esta que nos traz a capacidade de pensar e de sermos cidadãos críticos.

No reino da esperança, a vida dorme. Ah, que espetáculo divino é o seu despertar. Que ato portentoso acontece, então, neste reino encantado onde moram os sonhos. Quando os elementos saem dos seus casulos, abrindo-se para o que não se chama morte.

Partilho esta ousadia com os leitores. Sonhar faz um bem enorme à alma, ao corpo, à mente, à vida. Se vai nos dar longevidade, não sei. Talvez nos rejuvenesça visivelmente, ou nos torne vencedores de alguma coisa, de alguma luta maravilhosa pela qual valha a pena lutar.

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