Lição de humanidade

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Cena do filme “Jonathan”. (foto: Patricia Clarkson)

Imagine um indivíduo com duas identidades. Cada uma delas existe 12 horas por dia. Quando uma vai dormir, a outra acorda. Ambas precisam conviver e, para dialogar uma com a outra, deixam vídeos gravados. Um vive das 7h às 19 h e outro das 19h01 às 6h59, em um processo desgastante para ambos.

Dirigido por Bill Oliver, o filme “Jonathan” é uma ficção científica que desenvolve essa premissa. Os desencontros entre os dois personagens são cada vez mais intensos, principalmente quando disputam o amor pela mesma mulher. A questão mais interessante, porém, está na maneira de lidar com as limitações da situação.

O filme pode ser visto como uma aula de resiliência, já que é necessário ter tolerância para conviver com a situação, respeitando o fato de o corpo ser o mesmo. Isso significa, por exemplo, que alimentação de um repercute no outro. Uma solução é a morte de uma dessas personalidades para que a outra domine.

A obra é uma excelente reflexão sobre como exercitamos a nossa capacidade de lidar com o outro. Mostra como o importante não é apenas reconhecer o que não gostamos, mas, sim, praticar continuamente o diálogo, pois somente por meio das diferenças se torna possível atingir a completude. Nesse sentido, o filme é uma lição de humanidade.

*Oscar D’Ambrosio é jornalista pela USP, mestre em Artes Visuais pela Unesp, graduado em Letras (Português e Inglês) e doutor em Educação, Arte e História da Cultura pela Universidade Presbiteriana Mackenzie e Gerente de Comunicação e Marketing da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo. Coordena o projeto @arteemtempodecoronavirus e é responsável pelo site www.oscardambrosio.com.br

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