Lolico, meu avô e a prisão domiciliar

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Prisao-Domiciliar

Foto: Reprodução Google

– Jairo, o que você acha desse habeas corpus que pode permitir que Lula cumpra sua pena em prisão domiciliar?

– Lolico, gato tão querido, creio já lhe ter dito algumas vezes que, quem acha, não sabe. Então, penso que, mesmo sendo uma possibilidade, não vai acontecer. O Supremo não tem coragem para tal! Mas esse é um tema interessante! Dona Sinhá contava em noites de vigília, sem energia elétrica em Brazópolis, MG, fatos deliciosos de sua infância. O que não era raro nos anos quarentas! Durante a Segunda Grande Guerra chegamos a um período de quarenta noites de escuridão!

– Jairo, amigo e senhor.

– Amigo, sim, senhor, não!

– Tá bom. Assim como você, já devo ter-lhe dito, mais de uma vez, que você está ficando velho! Sempre traz uma história antiga.

– Ainda bem que você disse história! Não costumo contar estórias quando estou tratando de coisas sérias!

– Será?

– Gato ambíguo, quer parar?

–  Não, não, estou atento!

– Meu avô, Otávio Teixeira Mendes, era cioso da Justiça! Certa vez, ao saber que um professor amigo seu fora preso, desculpem-me por não lembrar nome, nem crime. Imediatamente dirigiu-se à delegacia, procurou pelo delegado e solicitou a soltura do professor.

–  Mas Doutor Otavio, não posso soltá-lo só porque o senhor quer!

Aturdido pela verdade inconteste, pede para se utilizar do telefone.

– Zuto? Preciso de você, já! Tenho que soltar fulano, imediatamente! Venha já!  Zuto era o apelido de Jacob Diehl Neto, extraordinário advogado da época, irmão de Julio Soares Diehl, meu queridíssimo professor de Literatura e Francês.

Diante do Delegado meu avô e Zuto discutiram por algum tempo e concluíram: só poderia haver soltura se pessoa idônea se responsabilizasse pelo acusado, acolhendo-o em sua casa, hoje prisão domiciliar! Ainda um detalhe importantíssimo: a necessidade da presença de um soldado durante todo período da brecha da Justiça!

Minutos, não poucos, depois, chegam à rua Sta. Cruz, esquina da Rangel Pestana. Dona Leonina, nervosa, queria saber o que acontecia! Otávio, impassível disse: professor fulano vai passar uns dias conosco! Prepare um quarto para ele e o policial. Com toda razão dada, como a chamávamos os netos, olhou para ele com olhar que eu não gostaria de receber de Mirtes! Quem gostou da história foram as “crianças”, doze! Já pensaram: um soldado, possivelmente tosco diante do casal, do professor e das doze “crianças”?

O prato cheio para a criançada eram as refeições, quando o milico era o alvo das diabruras. O plano, provavelmente bolado por Dona Sinhá, a mais velha do elenco! Ataram os guardanapos, de pano, usados então, uns aos outros formando uma “tereza”. A cena do crime, adrede preparada constava da “tereza” sobre as cadeiras só das “crianças”. Sentavam-se, cuidadosamente, de modo que a “tereza” ficasse sobre seus colos. Como, à época, só a mão direita ficava sobre a mesa, a esquerda ficava segurando a “tereza”. A cada gafe do policial, quem visse primeiro dava um puxão na “tereza”. Imediatamente vinte e quatro olhos se dirigiam à vitima! Difícil era conter ou disfarçar a risada!

– Torna-se difícil imaginar como você chegou a ser um respeitável professor!

– Lolico!!!

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