Meditações de fevereiro

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Foto: Reprodução Google

Existe cheiro mais encantador do que a roupa recolhida do varal, numa tarde de fevereiro, quando uma brisa suave percorre todo o quintal? Abraço as toalhas de banho, o perfume de sol que delas exala penetra na minha alma pequenina e agradeço a Deus pelo trabalho de mais um dia.

É o cheiro da vida, insistindo em nos dizer que há encanto em toda parte, basta olharmos para tudo com olhos de amor. Procuro em cada canto a beleza oculta, a que espero ver um dia, antes de partir. Monto guarda, fico de vigia, dia e noite. Gosto do silêncio, mais que tudo. Amo a quietude, a serenidade das noites de verão, um tímido rumor passando pelo casario onde moro.

Pressinto que há um turbilhão de coisas vindo ao nosso encontro. Algo de uma beleza aterradora, que nos fará parar de repente, e refletir sobre nosso passado, nossas ações e atitudes. Veremos o estado de nossa alma e para onde ela iria, se morrêssemos naquele momento.

Compus uma pequena melodia para os nove coros de anjos. Ó Serafins, ó Querubins! Coro dos Tronos, Dominações! Ó Potestades, lindas Virtudes! Ó Principados, Arcanjos e Anjos! Canto a melodia pela casa, e um incêndio de luz a tudo invade enquanto saúdo as hostes angélicas! Um canto de amor.

Às vezes, falta-nos justamente esse amor. Esse afeto que deixa o coração mais feliz, a alma mais jovem e mais aberta ao novo! Que venha a beleza outonal logo mais, as folhas levadas por um mistério digno. Seja varrido de nós todo mal e toda tristeza.

Ah, que dias tristes tivemos! A água desabrigou e matou. O fogo fez vítimas inocentes, meninos sonhadores. O ar provocou um encontro fatal destes que nunca se podem esperar. E a terra? Quanta dor misturada à lama da tragédia anunciada. Quantas vidas se foram, de forma cruel e brutal, as casinhas enterradas no esquecimento do descaso, da falta de sensibilidade para com a vida humana e o meio ambiente.

Rezamos para que tais horrores não se repitam e, no entanto, desfilam sem cessar perante nossos olhos incrédulos, nossa emoção paralisada por um medo absurdo de que alguma barragem próxima de nossa cidade venha a se romper, causando o mesmo tipo de catástrofe.

Uma grande poeta, minha amiga, dizia sempre: não permita, Deus, que eu morra sem ver a beleza. Foi com ela que aprendi a rezar assim, a repetir esta oração, este mantra de força e de fé! A beleza da vida em flor! A dignidade estampada na face dos cidadãos! A humanidade irmanada num só pensamento, o de acolher o outro, o do país vizinho. O refugiado, o expatriado, o cansado de viver.

Há tanto preconceito ainda! Tanta intolerância e tanto ódio nos corações! Mata-se o outro porque ele é diferente, porque pensa e age de outra maneira, porque é um povo de uma cultura que atrai ira e vingança, porque não se pode conviver em paz, é preciso promover a guerra, eliminar, destruir, matar.

Não quero terminar meu texto na sombria disputa do mundo. Que lancem seus torpedos de morte, nós iremos sempre saudar a vida e a paz. A vida em fevereiro. Um mês aparentemente sem graça, que marca o final das férias e do horário de verão. Todo mundo já voltou da praia?

Que os 28 dias de fevereiro se revertam em vida e esperança. Deus seja louvado.

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