Meu coração em abril
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Quero dedicar um poema para abril, cantar as tardes abrilinas e a esperança. Celebro este mês maravilhoso e seu perfume. Abril cai dentro do meu coração todos os anos. Permaneço em abril por um bom tempo e renovo a validade do sonho.
Abril me faz acreditar na humanidade. Abril me deixa febril. Abril abre para os meus olhos uma porta infinita de horizontes. Lá longe está a beleza e alcançá-la me será penoso, depois de três cirurgias na coluna. Andar muito me cansa. Então, peço à beleza que se aproxime para tocá-la com humildade.
A semana santa e o céu de abril. A Paixão do Senhor e as nuvens tão novas e tão brancas. Alguém achou graça porque fui me confessar com o frei na igreja, como faz todo bom católico, pelo menos uma vez ao ano pela festa da Páscoa. O frei devia estar cansado, e havia tanta gente na fila esperando a vez.
Abril e as revelações. Então, ele me escreveu assim: “Se você quiser, faço uma casa na árvore pra gente sonhar. Não tenho o terreno, não tenho a árvore, não tenho nada, mas tenho um coração cheio de amor.” Poeta, escreveu também: “Se você quiser, divido um doce com você. Aquele pé-de-moleque da nossa infância, do bar da esquina.”
Pensei que era bom demais para ser verdade, quando ele mandou mais esta: “Se você quiser, compro um pacote de balas de mel. Todos os livros de Drummond. Três dúzias de rosas vermelhas. Mil buquês de flores do campo”. Respondi que aí era muita coisa. Ele rebateu: “Se quiser, vou morar na praia que você escolher.”
Eu já estava achando que estas coisas só acontecem nos livros e nos filmes, quando ele me mandou mais uma mensagem: “Se você quiser, vamos à Lua. Podemos fazer a viagem inesquecível. Será que tem luar lá?”.
Ah, meu anjo, não me faça esta pergunta poética. Se não tiver luar na Lua, sofreremos uma decepção lunar. Este é o show da Luna. Conhece o desenho, meu bem? Luna é uma menina inteligente que procura saber a origem de tudo, por que o gato mia, verde por fora, vermelha por dentro é a melancia. O que está acontecendo a Luna vai descobrir.
Eu só quero descobrir por que abril existe e por que você existe, meu vate. Com esta convicção maravilhosa de que o amor é capaz de fazer prodígios. Abril é a passagem secreta para esta aventura. A princesa na torre do castelo. Os nossos dias já estão avançados e o tempo passou.
Abril vai passando em fogo, deixando em meu peito uma chama inextinguível. Abril é o incêndio da minha alma, da minha cantiga pobrezinha, do chão de pedras, da sandália franciscana, do café com pão e manteiga.
Nós estamos passando, meu bem e, infelizmente, abril também passará…