Mundo Novo

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imagesNa manifestação do Reaja Piracicaba do dia 27 passado, deparamos com paredão de guardas municipais na entrada da Câmara de Vereadores. Nem sabia que nossa briosa Guarda era tão bem equipada. Se fosse para proteger o povo sentiria até orgulho. Mas, parecíamos intrusos em nossa própria cidade. Logo depois veio a PM. Estacionou na calçada infringindo leis que ela mesma deve defender. Faça isso você para ver o que acontece. Mas, para proteger políticos tudo pode, mesmo sendo eles – apesar das exceções – os principais responsáveis pela degradação da coisa pública, dentre elas o sucateamento da própria polícia.

Do nosso lado, mulheres, crianças, jovens, adultos e idosos, respeitáveis cidadãos, que deixaram o conforto do lar para lutar – muito mais que os políticos – por uma cidade mais justa. Nossas armas eram cartazes, apitos e um megafone. Ao todo, havia mais policiais que manifestantes. Não tiveram o gostinho de prender, bater, tacar bombas e atirar borrachas porque como sempre viemos em paz.

Vi nos jornais várias declarações afirmando que a intenção principal da polícia é proteger o cidadão. Realmente, quando fez esse papel, vimos nas últimas manifestações que tudo terminou bem. Quanto aos atos de vandalismos, correm boatos que alguns foram planejados. De qualquer forma, se punem os poucos desajustados que os praticam por que não gestores públicos que favorecem poderosos, mas para o povo oferecem serviços de baixa qualidade no transporte, lazer, saúde, educação, segurança, habitação, além de uma cidade suja e cheia de buracos?

Quanto a Polícia defender o cidadão, não é o que vejo no dia a dia. Se alguém tiver faro para prever algum desatino e tiver condições de acioná-la e ela vier a tempo, será um sortudo. Normalmente ela chega para reconhecer cadáveres e fazer BO. É claro que a polícia tem prendido gente perigosa, porém mesmo assim, sua capacidade de elucidação de crimes deixa muito a desejar. Nos programas ‘mundo-cão’ da TV vejo-a prendendo – não que não deva desde que necessário – gente desocupada, descamisada, drogada, doente da cabeça; todas pobres e feias, pelo menos para os padrões vigentes.

Para quê, pergunto, existem viaturas, armas cada vez mais sofisticadas? Para prender barões do transporte público, banqueiros sanguessugas, empreiteiros corruptos, fazendeiros escravocratas, empresários que matam, parasitas do mercado imobiliário, senhores do tráfico, donos de cartéis e contraventores acima de qualquer suspeita? Para quê existem tropas de choque, caveirões, balas de borracha, bombas de efeito moral, cães, gás de pimenta, etc.? Para desalojar de suas casamatas políticos pilantras?

Parece que não, porque esse aparato todo tenho visto nas deprimentes cenas de reintegração de posse, quando a polícia chega arrebentando pessoas e barracos, uma covardia. Faz isso em nome da Justiça, que deveria punir especuladores e não gente cujo direito a um teto está garantido na Constituição. Mesma coisa nas ocupações de favelas – feridas sociais feitas pelo descaso do poder público aliado a uma elite cruel, que usa os pobres e lhes nega cidadania. Vejo-o também na dispersão de manifestações pacíficas, na dissolução de passeatas, na repressão a greves e paralisações, direitos legítimos numa sociedade, que, se fosse civilizada como apregoa, não toleraria a miséria e nem pobre batendo em pobre como fazem policiais mal pagos contra seu próprio povo, enquanto os verdadeiros vândalos riem atrás de vidraças de cristal.

O patético paredão de guardas municipais pagos com nosso dinheiro para proteger políticos anuncia o fim de uma época. Os poderes perderam legitimidade e precisam da força bruta para se manter. Arrogância, individualismo, sucesso pessoal, riqueza, exploração estão com os dias contados. Ergamos a cabeça e preparemo-nos para acolher o mundo novo anunciado no grito dos jovens e das crianças.

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