O poder da arte
Os textos de diferentes autores publicados nesta seção não traduzem, necessariamente, a opinião do site. Sua publicação obedece ao propósito de estimular o debate e de refletir as diversas tendências do pensamento contemporâneo.
Foto: Reprodução Google
Numa sociedade muitas vezes conturbada, em que parece ser cada vez mais difícil encontrar sentido para as múltiplas influências que agem ao mesmo tempo, o filme ‘Uma Mulher Exemplar’ (‘Woman Walks Ahead’, dirigido por Susanna White) merece ser ponto de partida de diversas reflexões.
Diversas leituras são possíveis. Incluem a capacidade da arte de transformar a realidade, a luta das mulheres pela igualdade de direitos e estratégias políticas para manter o poder. Esses assuntos se relacionam e apontam para um bem maior: toda atividade, por menor que possa parecer, integra um todo apenas aparentemente caótico.
O eixo temático do filme está na jornada, no final do século XIX, de uma pintora de Nova York, Caroline Weldon (vivida pela sempre intensa Jessica Chastain), em Dakota, para pintar um retrato do líder indígena Touro Sentado, naquele momento desprovido de força política e passando os dias plantando batatas.
A chegada da artista, em meio a um conturbado momento político da relação entre os antigos líderes indígenas e as autoridades brancas, colabora para que Touro Sentado recupere a sua dignidade de chefe. Isso se dá simbolicamente pelo retorno ao uso de suas roupas cerimoniais, como o grande cocar de penas, e pela recuperação de um discurso contestador.
Como bem mostra o roteiro, não basta ser. Parecer também pode ser fundamental. O retrato que motiva o filme realmente existe e aponta justamente para essa recuperação de valores. Além disso, a pintora enfrenta numerosos preconceitos por ser mulher e se envolve numa luta de forças entre a tradição local e o poder central dos EUA. Esses elementos se relacionam das mais variadas formas na tentativa da pintora de construir uma sociedade melhor, objetivo maior de artistas de qualquer época.