O problema dos pombos nas cidades

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Recentemente, matérias publicadas pelos jornais relataram que a instalação de refletores na Praça José Bonifácio, no Centro de Piracicaba, não estava rendendo os resultados esperados, uma vez que os pombos continuavam pousados nos galhos. Seriam os pombos piracicabanos tolerantes aos refletores, ao contrário dos de Araraquara, onde essa mesma medida teve grandes resultados? Provavelmente não. A diferença talvez tenha sido outra. Naquela cidade a prefeitura adotou como medida complementar aos refletores a defesa e o plantio de árvores atrativas à fauna no local, com o objetivo de atrair sabiás, sanhaços, bem te vis, saíras e outras espécies, para que estas disputem o espaço com os pombos, tirando-os da “zona de conforto”.
Cortar e podar drasticamente as árvores das praças é, talvez, a medida mais adotada pelas prefeituras para tentar acabar com os pombos nas praças. A ideia é que não havendo galhos para eles pousarem, abandonarão e deixarão de fazer sujeira. Mas esse é o maior erro, mesmo porque eles pousam nos postes e na fiação elétrica. Eliminar ou diminuir a quantidade de árvores irá favorecer os adaptados ao meio urbano sem árvores (pombos, pardais) e prejudicar os não adaptados (sabiás, sanhaços, entre outros), favorecendo ainda mais o desequilíbrio ecológico, talvez a principal causa do problema.
Há tempos os pombos domésticos vêm sendo considerados grandes problemas em áreas centrais de cidades brasileiras,  sendo considerados uma das principais pragas urbanas. Na Europa, há relatos de “problemas” relacionados à presença deles em praças de cidades como Barcelona, Veneza e Londres desde a década de 1960. No Brasil, o problema foi diagnosticado um pouco depois.
Os pombos foram trazidos pelos imigrantes europeus no Século XVI, para serem criados como animais domésticos. Na Europa, eram criados e treinados para diversas funções, dentre elas a mais conhecida “pombo correio”. São animais que foram introduzidos (assim como os pardais, na época do Império) no nosso país, porém, como no caso do pardal e de muitas outras pragas, alguns exemplares fugiram ou foram soltos quando seus donos desistiram da criação.
Os pombos e os pardais se adaptaram a viver nas praças e  áreas centrais das grandes cidades (bem como em qualquer bairro carente em arborização) por não dependerem das flores, dos frutos e das frutas produzidas pelas árvores. Eles se alimentam de milho e quirera jogados por pessoas que gostam de alimentá-los e, também, dos restos de comida jogados no chão pelo homem. Além disso, se adaptaram às construções urbanas para construírem seus ninhos, muito comuns em forros, beirais de telhados, etc., o que explica termos muitos bem te vis no centro de nossas cidades, assunto para outro artigo.
Para tentar solucionar esse problema, Piracicaba instalou refletores como medida de controle de pombos na Praça José Bonifácio, no Centro da Cidade,  medida  autorizada pelo IBAMA e com sucesso em Araraquara, espantando 90% dos pombos em três semanas naquela cidade.  Porém, apenas transfere o problema para outro local, uma vez que esses pombos espantados vão passar a habitar bairros com características parecidas (poucas árvores e baixa concorrência com outras espécies).
Só teremos sucesso se entendermos os motivos que levaram à superpopulação e passarmos a agir na contra mão deles. Vamos conscientizar as pessoas a não jogarem milho e restos de comida no chão, vamos incentivar a vedação de beirais com telas, vamos plantar mais árvores nas nossas praças  e incentivar a presença de outras espécies (muitas delas “territorialistas”, que irão disputar espaço e aos poucos diminuir esse desequilíbrio ecológico.  Precisamos encarar de verdade esse problema e buscar a solução.

Antonio Claudio Sturion Junior (Eng. Agrônomo e membro da SODEMAP)
Eneas Xavier de Oliveira Junior (Advogado e Mestre em Direito Ambiental)
Ninfa Zamprogna Barreiros   (Economista Doméstica e membro do Conselho das Cidades)

1 comentário

  1. José Carlos Ferraz Semmler em 30/09/2014 às 17:05

    Gaviões predadores de pássaros como o gaviãozinho Pinhé pode ser a solução.

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