O retribuir e a sinfonia do amanhã

Os textos de diferentes autores publicados nesta seção não traduzem, necessariamente, a opinião do site. Sua publicação obedece ao propósito de estimular o debate e de refletir as diversas tendências do pensamento contemporâneo.

01_simbolos_japaoO Japão que, com uma área de 377 873 m2, é comparável à área do estado maranhense, apenas um dos 26 que compõe a república brasileira, ou, ainda, que é comparável à área de Montana, um dos 50 estados que compõe os Estados Unidos, é este diminuto país insular que, a despeito de sua exígua extensão territorial, possui uma das economias mais pujantes do mundo, estando apenas atrás da economia dos Estados Unidos e da China.

O Japão, além da enorme desvantagem territorial, ainda não tem a seu favor fontes portentosas de riquezas naturais como as que permeiam, por exemplo, o solo brasileiro, outro gigante territorial.

O Japão, diferentemente de nosso país verde amarelo que nunca teve em seu chão sangue derramado por guerras externas, viu sua terra e sua população serem dizimadas pelo advento da Segunda Guerra Mundial.

O Japão teria diversos outros fatores que poderiam leva-lo a não ser quem ele é, esta potência sócio-econômica. Mas algo em sua história foi maior e mais poderosa que todos os fatores negativos que poderiam preestabelecer seu não sucesso: a educação, o enorme valor que seu governo deu ao assunto investindo maciçamente no ensino logo após a Segunda Guerra.

Estes fatos, entre outros, foram reiteradamente contados por meu pai a mim e meu irmão durante os anos de nossa infância e juventude na busca de nos mostrar o valor da educação. Para nos dar uma perspectiva do respeito dado a educação no Japão, contava-nos ele que naquele país a única pessoa para qual o imperador curvava-se era para a figura do professor…

Com informações e valores como estes praticamente tatuados em nossos “genes” fomos crescendo e, hoje, eles são novamente usados para nortearem a educação de nossos filhos. E foi portando informações e valores como estes que ontem dirigi-me à reunião de pais e mestres da escola Vista Grande Elementary School na qual meus filhos estudam.

A reunião acontecia há uns vinte minutos quando o professor, Mr. Carsten, um entusiasta do ensino, resolveu dividir conosco porque decidira ser professor há mais de 17 anos abandonando uma promissora e lucrativa carreira no mundo dos negócios. Ao contar-nos sua história na qual era latente a paixão pelo ensino ele finalizara a mesma dizendo: eu decidi ser professor porque queria dar de volta, retribuir.

Aquele homem que já vinha nos presenteado durante as primeiras semanas de aula sendo um excelente professor, altamente competente e adorado pelas crianças, naquele momento da reunião fez com que o tempo parasse diante de uma plateia embevecida.

É fato que um bom professor é uma pessoa que pode marcar a vida de uma criança mudando-a para sempre. Importantes homens de nossa história fizeram referência a estes gigantes dos bancos escolares. O último a respeito de quem li foi Steve Jobs que dedicou páginas de sua biografia discorrendo sobre a professora primária que mudara o curso de seu destino.

Grandes professores diária e incansavelmente lavoram longe dos holofotes, no anonimato, junto as crianças ajudando a construir não apenas o intelecto mas o caráter dos os homens e mulheres de amanhã. Muitos destes vislumbrando e incentivando o que cada criança tem de melhor (as vezes qualidades mesmo dormentes) os fazem acreditar em si mesmos, o que constitui um passaporte para uma vida de sucesso.

Pois professore assim, mestres de verdade, já seriam em sua essência alguns dos verdadeiros heróis da história.

Porém, quando ainda acima disto, aprendemos que a razão maior que leva um educador a trilhar tal caminho é a gratidão, a necessidade de retribuir ajudando a abrir os horizontes da vida de uma criança… Ah! Que espetáculo!

Quantos de nós escolheríamos um caminho profissional tendo o “retribuir” como bússola norte?

Caro Mr. Carsten e todos os professores que bebem de águas tão valorosas na motivação e no trato com nossas crianças: não sabemos de qual show farão parte nossos filhos no futuro, mas a julgar pela envergadura dos senhores maestros por trás da orquestra formada por nossos pequenos em suas salas de aula hoje, a musica será soberba e o espetáculo virtuoso!

Obrigada por com tais valores embutidos no peito e pela habilidade com que conduzem nossas crianças estarem afinado as cordas da sinfonia do amanhã.

Obrigada mestres maestros por serem quem o são.

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Versão em inglês, para os internautas dos Estados Unidos:

 

GIVE BACK AND THE SYMPHONY OF TOMORROW

Japan has an area of 145,925 sq miles comparable to the State of Maranhão, one of the 26 states that forms the Brazilian Republic, that is also comparable in size to the State of Montana, one of the 50 states that forms the United States. This island country, regardless its small territorial size, has one of the largest economies in the world, only behind the economy of the USA and the economy of China.

Japan, besides its size disadvantage, also doesn’t have in its favor abundant natural resources like those found in Brazil, another territorial giant.

Different to our green and yellow (the colors of Brazilian flag) country that has never had blood spilled on its ground by external wars, Japan saw its land and its people devastated by the Second World War.

Japan would have several other reasons that could lead the country to not be who it is, this great socio economic force. Something in its history was bigger and more powerful than all the negative facts that could have pre-disposed it to not succeed: education, the huge value that its government gave right after the Second War to the matter, investing heavily on teaching.

My father repeated these facts, among others, to my brother and I during our childwood and youth to show us the value of education. To give us a perspective of the respect of education in Japan, he used to tell us that in that country the only people to whom the emperor used to bow was to teachers…

We grew up with information and values like those imprinted on our “genes” and today they are used again to guide the education of our boys. It was carrying values and information like these that yesterday I attended the back to school night event at Vista Grande Elementary School where my kids study.

The meeting had been going for 20 minutes when Mr. Carsten (an enthusiast of teaching) wanted to share with us why he had decided to be a teacher more then 17 years ago leaving behind him a promising and profitable career in the business world. While telling us his story in which the passion for education was obvious, he said: I decided to be a teacher because I wanted to give back.

That man that had already been pleasing us during the few first weeks of schools been a excellent teacher, highly competent and loved by the kids, made the time to stop by at that moment in front of an enchanted audience.

It’s a fact that a good teacher is a person that can make a difference in a child’s life forever. Important people through our history already made references regarding these giants of education. The last one that I remember reading about was Steve Jobs who dedicated pages of his biography to speak about his elementary school teacher who changed the course of his destiny.

Great teachers daily and tirelessly work with children far from the lights, in anonymity, helping to build not only their intellect but also the character of the men and women of tomorrow. Many of these teachers seeing and motivating the best in each child make them believe in themselves, which is a passport for a successful life.

Therefore, teachers like these, true masters, already would be by their very essence some of the true heroes of our history.

However, when on top of this we learn that the primary reason why an educator chooses to pursue the path of teaching is gratitude, the necessity to give back, opening the doors of children’s’ life…ah! What a spectacle!

How many of us would choose a professional career having the “giving back” as a guiding light?

Dear Mr. Carsten and all the teachers who drink from the same valuable well while motivating and dealing with our kids: we don’t know from which stage our kids will be part of in the future, but judging by the magnitude of the masters (teachers) behind the orchestra formed by our little ones in your classes, the music will be superb and the show will be virtuous!

Thank you, for with such values inlayed on your heart and with the ability that you have conducted our children, you have been tuning up the cords of the symphony of tomorrow.

Thank you masters maestros for being who you are.

Thais Helena Ouzounian

PS. My special thanks also to Mrs. Wilson, Mrs. McGovern and Mrs. B., all giants of educations too.

 

9 comentários

  1. Regina Sparrapan em 25/09/2013 às 12:59

    Muito bom

    • Thais Helena Guidolin em 26/09/2013 às 16:23

      Obrigada senhora Regina!

  2. Sergio Gelli em 25/09/2013 às 13:54

    Olá !

    De certa forma você também é uma professora, sempre aprendo alguma coisa com seus textos e, este gostei bastante.

    Então, no Japão, o seu mais alto personagem, o Imperador Akihito se curva diante de um professor?

    Bem diferente daqui, pois nossos governantes parecem desprezar os professores e o seu (desculpe, não meu) Presidente Lula da Silva orgulhava-se de não ter estudado.

    • Thais Helena Guidolin em 26/09/2013 às 16:22

      Caro Sérgio, mais uma vez me brinda com palavras elogiosas. Muito obrigada. O Jornal e eu ficamos contente em saber que a idéia da versão em inglês foi de fato uma ótima idéia. Que bom! Continue “a bordo”. Mais artigos virão.

  3. Fernando Inacio Bueno em 26/09/2013 às 14:06

    Necessito conversar com americanos e achei excelente ideia esta publicação em bilingue,

    Explico porque: Como o inglês não é meu idioma nativo, estou sempre aprendendo passar palavras e frases para o inglês, mas não basta saber a tradução, Ter a oportunidade de ler um texto em português com seu equivalente em inglês, me proporciona aprender e tirar dúvidas imediatamente. Além disso me mantém conectado à minha terra natal

    Gostei deste arranjo e vou ler sempre.
    Parabéns pela iniciativa.

    • Thais Helena Guidolin em 26/09/2013 às 16:20

      Caro Fernando, muito obrigada por nos deixar saber sobre seu prazer em ter a disposição uma versão do texto em inglês. Trata-se de uma nova experiência e como tal é ótimo saber que o leitor a aprova! Nosso objetivo foi exatamente este: dar a opção ao leitor de praticar,se assim o desejar, seu inglês. Um abraço, Thais

  4. carrie wilson em 26/09/2013 às 19:24

    Thank you for the beautiful words Thais! It is so wonderful to have parents like you in my classroom. Thank you for all your support and for teaching your children such important values. Your letter makes us all feel so appreciated and special. Thank you again for your kindness.
    Carrie Wilson teacher at Vista Grande

  5. Veronica em 03/10/2013 às 17:21

    Parabénsss….me amarro nos seus textos! Aprendo muito obrigada.

  6. Fernando Fernandes em 05/11/2013 às 10:01

    Fico feliz em saber que é uma história real, não aquelas contadas no cinema.
    Parabéns pela sensibilidade de dividi-lá com nós.
    São momentos como este que nos fazem acreditar que “existe futuro” .
    Infelizmente vivemos em um mundo capitalista, onde sem recursos financeiros não conseguimos “nem respirar” e neste ponto o que estão fazendo com os professores é desumano.
    Grandes mentes e corações abandonam sua missão de professor, para sobreviver.
    Forte Abraço
    Fernando

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