Olhar-guia
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Por todas ruas que eu andei
A da Amargura se encaixava
No meu olhar que se baixava
Pelo engano que me encantei
Foi aquele olhar-de-serpente
Que me partiu em mil estilhas
E foi naufrágio no entre-ilhas
Sem qualquer refúgio aparente
Eu tinha um desejo menino
De que fosse a tal profecia
Mas naquele olhar só se via
A negra flor de desatino
Olho-negro se deu conta de ir
Se entrelaçando na falácia
Na pobre e insalubre audácia
Impus à fala submergir
No entanto, meu olho-vigia
Quando já fechava seu turno
Sem crer em sair do soturno
Viu de longe um astro guia
Sem saber se olho-do-mato,
Enguia, Guiné, Lambari
Viola, Agrião ou Sucuri
– Seduziu meu peito mulato
Tinha doce, riso faceiro
Herança de fruto afetivo
Franca olheira de um lenitivo
Vermelha pimenta-de-cheiro
Quase sem querer, me prendi
Para sempre nos lábios de uva
Com o altivo olho-de-chuva,
De mãos trançadas, eu segui.