Ouro Azul

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Planeta Terra

Foto: Reprodução Google

Quando você chegou, eu já estava a sua espera. Nosso Criador fez você e todos os viventes dependentes de mim.

Estou abaixo de seus pés, acima e dentro de você. Ocupo a maior parte do planeta. Dentro deles a vida explode com tanta beleza, variedade e harmonia que você nem imagina. Foi graças a mim que você chegou aos confins da Terra, porque carreguei seus navios. Mas, como é do seu feitio ingrato, também se serviu de mim para traficar escravos, fazer guerras e levar a morte.

Venho das profundezas da terra e broto cristalina nas nascentes e minas formando lagos, ribeirões e rios, que deslizam generosos por milhares de quilômetros levando vida, alegria e progresso.

Os rios eram bem mais lindos antes de você chegar. Tão inteligente que é, já chegou à lua e sabe quase nada dos rios. Já notou que a maioria de suas cidades nasceu ao lado deles e por causa deles? Foi pelos rios que você penetrou as matas, fundou povoações, e é por eles que vocês estão interligados. É através dos rios que mato sua sede, irrigo suas plantações, forneço-lhes alimento, transporto riquezas e – embora não concorde – deixo-me represar em enormes barragens para fornecer-lhes energia elétrica, da qual depende quase tudo o que vocês produzem hoje. Por que você está acabando com eles? Como disse meu amigo Frei James Luiz Girardi: “Rio limpo, povo vivo; rio morto, povo morto”.

Você age como se fosse o dono absoluto e o único morador desse planeta. E os animais que não têm sossego desde que você aqui chegou, não têm direito à vida como você? Você é uma criatura como as outras, aliás, muito mais fraca e dependente. Precisa de todos nós para existir: de mim, do fogo, das árvores, dos bichos, das plantas, da terra, dos ventos, do sol, da lua, dos insetos, das aves, dos vermes e dos metais. Aponte, agora, uma só criatura que depende de você para sobreviver.

Você foi o último a aparecer; já estava tudo pronto à sua espera, bastava cuidar e melhorar, porque das criaturas você é a mais perfeita. É nosso maestro. Não compreendo como pode estar me matando. Quando eu desaparecer por completo você vai me comprar aonde?

Humilde e obediente eu entro limpa em sua casa, caio em suas mãos, cozinho sua comida, mato sua sede, limpo sua louça, seu chão, lavo suas roupas e seu corpo, e saio totalmente imunda através dos seus fétidos esgotos, levando as imundícies que nenhum animal produz a não ser você.

Vocês mandaram um robô á Marte para ver se já estive por lá. Pode ser que tenha sido um planeta azul como o nosso, mas, se transformou num deserto e seus habitantes desapareceram, porque fizeram comigo o que você está fazendo aqui.

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