Pebolim

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Pebolim

Foto: Reprodução Google

No quintal da maioria das casas, além de árvores frutíferas, hortas e flores, havia galinhas quando eu era criança. Talvez por isso escorpiões não dessem as caras. Mas, o que me divertia mesmo era ver o fuá que acontecia no galinheiro quando jogava um pedaço de carne. A galinha que primeiro pegasse saia desembestada, porém não tinha sossego. Em questão de segundos a carne já estava em outro bico, em outro e assim por diante. Os dribles eram incríveis. Bicada na cabeça, derrapadas, trombadas, tombos. E a gente na torcida. No final da maratona sobrava nada mais que um fiapo no bico da vencedora.

Lembro-me disso quando vejo jogo de futebol hoje.  Aonde a bola vai os dois times vão atrás. A maior parte do campo fica vazia. Não há surpresa, nem emoção.  Não existem mais posições e nem lançamentos. Todos fazem tudo e gol que é bom, neca. Forma física eles têm, correm feitos cavalos de raça, mas jogam nada. Se a bola vai para algum canto ali a roda se fecha. A bola vai de canela em canela como em jogo de pebolim até sair do campo. Com espaço curto, as faltas acontecem uma atrás da outra. Aliás, nos jogos de hoje se vê mais faltas, laterais, contusões e cartões que gols. Pouco lembra o futebol de conjunto, alegre e aberto dos tempos de outrora.

Claro que existem craques de verdade, porém, sem querer generalizar, jogador de hoje é previsível, não tem raciocínio, não tem criatividade, ginga, malícia, arte. Sua meta é o sucesso e não o prazer de jogar futebol. Preocupados com a própria imagem cuidam mais das câmeras que da bola. Topete impecável, camisa colada ao corpo bombado, e cérebro zero. Estão bem integrados aos tempos de hoje, onde dinheiro, aparência e fama valem mais que a grandiosidade do desporto. Tudo é negócio. Eles mesmos viraram placas de anúncios em movimento.

Com tanta mediocridade é muito difícil assistir um jogo inteiro sem pegar no sono. Que saudade dos tempos em que futebol encantava multidões e emocionava o coração desse povo sofrido, cuja única alegria era ver seu time estufar o barbante.

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