Perdizes
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Começou a construção do shopping Mirante nas dependências da antiga fábrica Boyes. Além das grandes redes que virão, vão erguer um hotel com cinco ou seis andares. Já disse aqui que aquele lugar foi tirado do rio e deveria ser-lhe devolvido. Poderia no máximo ter museu, centro cultural ou de lazer completando a vocação do local. Não sei se existem estudos de Impacto Ambiental e de Impacto de Vizinhança para medir que consequências trarão a grande movimentação de caminhões de carga, carros e etc. numa região tida como parque – o Parque da Rua do Porto.
Apesar de achar shopping coisa de gente bitolada que façam quantos quiserem, afinal quem tem muito dinheiro deve investir, mesmo porque carrega uma dívida social. “Morrer rico é uma vergonha” como ensinou Andrew Carnegie (Elio Gaspari – Folha 17.05.15) e “falta de criatividade”, no dizer de Irineu Danelon, bispo católico.
Embora seu objetivo principal seja o lucro, a justificativa de sempre é a geração de empregos, e shoppings geram muitos deles, apesar de qualidade ruim. Mesmo assim, emprego não justifica destruição da natureza e descaracterização de patrimônio histórico e cultural. Desde criança ouço falar em geração de empregos. Nunca foram ou serão suficientes, mesmo porque ao menor sinal de crise, os empresários botam a maioria na rua. Ficam com o bônus e a cidade com o ônus. Nesse sentido, se querem mesmo dar empregos ergam shoppings na periferia. Além de trabalho, os menos favorecidos poderão ter algum tipo lazer e entretenimento, mais a valorização da região onde moram e melhoria em sua autoestima. Vi reportagem mostrando empresários de melhor faro e tino menos preconceituoso que os nossos fazendo isso em algumas cidades do Nordeste. O povo se mostrava muito contente e os investidores comemoravam o sucesso de empreendimento.
No entanto, o que me preocupa não é o shopping em si, mas o jeito de fazer as coisas. Como de costume, donos do dinheiro decidem o futuro dos outros. A população sequer é consultada, de nada participa; embora sem ela esses senhores não consigam assentar um tijolo sequer. Como agora, ante situações de caos urbano, mais pra frente dirão que faltou planejamento. Estou vendo que não é bem assim. Faltam bom senso e responsabilidade social; sobram ganância e inconseqüência. Por isso, cidades brasileiras são inóspitas, desiguais, perigosas, sujas e desertas de vida. Para poucos o luxo; para a maioria o resto. Viraram arapucas para quem trabalha duro e ganha pouco: enchentes, soterramentos, tráfico, doenças, trânsito infernal, calor, falta de verde, deficientes e idosos confinados; presídios lotados, adolescente ociosos, jovens no crime, etc. Como coroas de espinhos, favelas, exclusão e violência rodeiam badaladas capitais. Poucos se perturbam ou se incomodam com o grau de desigualdade, injustiça e descaso a que chegamos. Aliás, nem imaginam que colhemos o que plantamos.
Para se ter uma ideia, na cidade de São Paulo de 300 a 500 cursos d’água estão tamponados sob ruas e avenidas. (Folha 04.05.15). A cobiça imobiliária fez esse ‘belo’ serviço em conluio com políticos pilantras e graças à omissão (ou comissão?) de autoridades pagas para defender o Direito. Hoje falta água e qualquer chuva mais grossa inunda, mata e devassa; menos os bairros ricos.
Não são os pobres que subornam, ameaçam, quebram planejamentos para conseguir seus intentos. Donos do dinheiro se julgam tudo poder e tudo comprar. Porém, não percebem a triste vida que levam. Como perdizes, chocam ovos para outros porque do que ajuntaram nada levarão. Com o excesso que acumularam sem precisão poderiam minorar o sofrimento de muita gente. Provariam da grande alegria que é servir, e, passada a imagem deste mundo, ouvir de Deus “Muito bem, servo bom e fiel, entre no gozo do seu Senhor”.
Olá. Em muitos aspectos compartilho com suas ideias. Segue link com artigo que publiquei, entre outros lugares no diário do engenho. Abçs, Carlos.. http://www.diariodoengenho.com.br/shopping-mirante-%E2%88%92-reflexoes-necessarias/