Pobreza imoral
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Desde que o mundo é mundo, as diferenças sociais existem e as pessoas habituaram-se a elas. Ainda que saltem aos olhos, firam a dignidade humana e causem indignação profunda, pobreza e miséria fazem parte da história da humanidade.
Os sistemas políticos estão organizados de forma a privilegiar determinados segmentos, exatamente os que dão suporte e continuidade a uma estrutura que tem suas garantias asseguradas. Algo que se pode traduzir pela palavra “poder”. Por causa dele, reinos inteiros já foram destruídos ou conquistaram a glória absoluta.
A maioria dos governos parece governar em causa própria, cuidando de interesses particulares, deixando a população à deriva, sobretudo nos países pouco desenvolvidos. Algumas nações possuem organização política e social capaz de atender aos princípios básicos da cidadania e da justiça. E quando isso acontece, em sociedades sofisticadamente desenvolvidas, povo e governo costumam se comportar com certa arrogância, demonstrando ostensivamente sua opulenta supremacia.
Contudo, o mundo e as sociedades modernas vivem momentos de graves contradições. A humanidade tem se deparado com importantes avanços tecnológicos; o conhecimento se expande em todas as áreas e, paradoxalmente, quanto mais se vislumbra o futuro maravilhoso e se descortinam novos horizontes, menos se pode esperar dos resultados destas conquistas. Elas não são distribuídas igualmente para todos, não estão disponíveis no mercado da fraternidade e da solidariedade.
Em tempos de oportunidades em áreas recém-inauguradas pela inteligência humana, o desemprego e a falta de perspectivas estão presentes, de uma forma jamais vista. Quanta gente perdeu o seu emprego, profissionais competentes e experientes em suas áreas de atuação estão fora do mercado, sem esperanças de retomar a atividade profissional. E para os jovens, quais as perspectivas de trabalho?
Se com estudo e um diploma, a vida se apresenta muito dura e o mercado altamente competitivo, pode-se imaginar as poucas chances de ascensão social ou de melhoria de qualidade de vida para quem não conseguiu cursar uma faculdade. O sistema se mostra injusto e opressor e, praticamente, expulsa de suas salas impecáveis e equipadas quem não teve meios de estudar ou de desenvolver profissionalmente as suas habilidades naturais.
Um presidente disse que no mundo de hoje nenhum problema se compara ao desequilíbrio que conhecemos e que mostra, de um lado, o “crescimento imenso das forças produtivas, a capacidade imensa de acumulação de riqueza de que as economias globalizadas dispõem”, lembrando que, do outro lado, mais de 1/5 da população do mundo continua a viver na indigência.
A pobreza, segundo ele, “é uma imoralidade” e combatê-la, erradicá-la, é uma questão de ética. Todo governante sabe e entende que a pobreza precisa ser diminuída, suavizada, e que o povo não pode continuar vivendo no chamado “vale de lágrimas”.
“O Brasil não é um pais pobre; é um país injusto”, afirmou ele anos atrás. Conseguiremos erradicar a pobreza e inaugurar a justiça?…