Ponto de vista
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Acompanho a Educativa FM há décadas. Gosto de sua programação musical e das informações sobre eventos culturais, educativos, entretenimento, notícias, reportagens, etc. Quanto ao jornalismo – quando trata de política e conjuntura nacional – a meu ver deixa desejar; geralmente é parcial. Além de contrariar regras, não acho correto, afinal cada ponto de vista é visto de um ponto dizia Paulo Freire, se não me engano. Jornalismo de verdade procura apresentar as várias facetas de um mesmo fato. A conclusão cabe ao cidadão. Uma das tentações do pessoal de emissoras estatais é tender para o lado da administração porque cargos e carreiras estão em jogo.
Nesse aspecto, nossa FM Municipal parece programa tucano. Os entrevistados se não são ligados ao partido são beneficiários da política vigente. Portanto, as informações são unilaterais. Jornalistas da emissora aparentam pouco domínio do contexto nacional. Tanto que o governo federal muitas vezes é tratado com deboche, especialmente a presidente, o que certamente agrada ouvintes numa cidade cuja maioria a rejeita. Apesar de crise hídrica sem precedentes, que poderia ter impacto menor numa gestão competente e muitos outros graves problemas, o governo estadual é intocável.
Absolutamente nada é questionado no governo local. Piracicaba parece uma ilha de excelência. Seus problemas raramente são abordados. Apesar de exceções de impacto inexpressivo, nossos políticos são ruins. O partido que governa está rachado. Nossa Câmara aprova tudo o que o Executivo quer – além de coisa temerosa mesmo numa administração perfeita, não foi para isso que foram eleitos. Problemas trânsito, na segurança, na saúde, educação, habitação, na assistência, no SEMAE, enchentes, etc. e nada se comenta. Até onde sei, jornalismo não trás respostas, mas debate.
Segundo o pensador Doug Floyd “Você não consegue harmonia quando todo mundo canta a mesma nota”. Hélio Schwartsman, colunista da Folha de São Paulo, afirma que “A existência de pessoas do contra são nossa melhor esperança. (…) Quando precisar juntar colaboradores, mais vale reunir grupos heterogêneos, com um número razoável de pessoas “do contra”. Elas reduzem os riscos das patologias da conformidade. Em vez dos elogios, prefira críticas. Apesar de desgastantes, são elas que vão ajudá-lo a melhorar suas idéias. E, mais importante, não acredite em fórmulas prontas”.
Para o dramaturgo norteamericano Arthur Miller “Um bom jornal é uma nação falando consigo mesmo”. Penso que uma emissora municipal deve estar a serviço da população. Não é qualquer cidade que tem recurso tão importante. Rádio ainda é o mais popular e eficiente meio de comunicação. Por isso, além do que já faz, a Educativa FM deveria abrir espaço para participação direta da sociedade. O prefeito tem que ter horário específico e permanente para esclarecer a população, partilhar preocupações, acolher reclamações, elogios e sugestões. Também os conselhos municipais, cada um por sua vez precisam de canal para prestar contas, orientar o cidadão e debater questões pertinentes; da mesma forma juízes e vereadores. Secretários poderiam expor atividades de sua pasta e ouvir o contribuinte. Organizações populares e comunitárias também poderiam ter espaço. Médicos da rede, agricultores, professores, assistentes sociais, policiais, motoristas de coletivos, coletores de lixo, etc. poderiam partilhar as dificuldades que encontram no trato com a população.
Creio que nossa Educativa FM tem condições e qualidade para dar um passo além e tornar-se estação de encontro e integração da sociedade piracicabana, além de referência em utilidade pública. Espero de seus gestores mentalidade aberta, e a visão abrangente que os novos tempos exigem.
Parabéns pelo artigo.
Já valeu a pena ter escrito. Obrigado.