Por exclamações de Adriano Nogueira!!!

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É das pessoas que, quando parte, independente de idade, vão cedo demais. Adriano Nogueira morreu aos 76 anos, cedo demais para todos, de A Tribuna, que conviviam pelo menos uma vez por mês, quando editava o seu, e nosso, Linguagem Viva. Ao lado da sempre agradável amiga Rosani Abou Adal – que continua a saga –, Adriana revisava as edições com capricho incomparável, detalhes mínimos lhe chamavam a atenção e a edição do jornal Linguagem Viva, uma após a outra, era sempre um filho seu, da Rosani, e de A Tribuna. Uma parceria que deu certo, vem dando certo e continuará dentro de tudo o que for possível. Continuar o Linguagem Viva é continuar uma história de admiração, de respeito e de gratidão a Adriano Nogueira.

Aqui, fazer a leitura da biografia de Adriano Nogueira é dispensado, dispensável ou desnecessário. Aqui, Adriano Nogueira é Adriano Nogueira, sempre Adriano Nogueira. Seus bons-bons de chocolate, suas balinhas, seus convites para um chopinho ou para um jantar, num bar qualquer, era prazer que não se dispensava. E que falta faz, hoje! Sempre estava atento em pagar a conta, porque sabia – sem falar, sem perguntar – que a vida difícil de um jornal pequeno não remunerava, nem remunera, tanto. Quando alguém recusava seu convite, só seria por doença, e daí Adriano ficava preocupado. Que saber de todos de A Tribuna, porque ele plantou, aqui, um ponto de exclamação!

Seu livro, “Registros Literários”, foi uma glória. Não para ele, mas para os seus amigos, os que partiram e os que estavam vivos na época. Ele queria registrar a vida dos literatos seus amigos, os que ele os conheceu bem, com os quais conviveu. Fez, do seu livro, um glória para os outros, sem qualquer custo para alguém, colocando seus ganhos a favor da literatura, da história, do bem comum, dos seus familiares e dos seus amigos. Uma letra miúda, tipicamente sua, marcou as dedicatórias, as expressões máximas do seu coração. Tinha gosto pelo que fazia, tinha gosto em expor idéias.

A última vez que viajamos foi a São Paulo, compromissos diversos, entre os quais a entrega dos exemplares de Linguagem Viva ao escritório de Rosani, para enviar para todo o Brasil. Caminhamos pela rua Barão de Itapetininga, a partir da Praça da República, e Adriano sentiu falta de ar. Foram 15 dias antes da sua morte e eu fiquei aflito, carreguei todos os pacotes, sozinho, longe dele fazer qualquer esforço: a cada cinco passos, parávamos, ele e eu. Eu, pela carga; ele, pela falta de respiração que o abatia. Mas era a circulação em dificuldade, que depois seria atestada.

Fizemos, eu e Adriano, muitas viagens, pelos jornais do interior, congressos, lançamentos de livros na região. Um deles, em São Manuel, de autoria da saudosa professora Rosa Aparecida Innocentti Dinhane, “Nas Ilhas do meu mar”, quando representou a Academia Piracicabana de Letras (APL). Voltamos tarde, bem noite, virando a madrugada de uma sexta para sábado, e chegamos na Praça José Bonifácio, na Brasserie dos irmãos Lescovar. Evaldo Filho – criança ainda – já entendia a alegria de Adriano Nogueira.

Foi tudo muito bom!, exclamava e fazia positivo com o polegar direito, enquanto batia a língua entre os dentes, cheios de saliva, porque era momento de um chope só! Dois só! Três só! Quatro só! Cinco só! Seis só! E, por aí afora, as exclamações vinham do agradável, tranquilo, sereno, altivo, fraterno, sábio e inteligente Adriano Nogueira, traduzido em saudade dez anos depois de sua morte, em falta nos 25 anos de Linguagem Viva e, mais ainda, lembrança dos 45 anos que o conheci, no começo do meu tempo no jornal O Diário, de Piracicaba.

 

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Evaldo Vicente, 60, é jornalista profissional, diretor dos jornais A Tribuna Piracicabana, A Tribuna de São Pedro, A Tribuna de Rio das Pedras, e Semanário de Santa Terezinha (Distrito de Piracicaba). É membro da Academia Piracicabana de Letras.

 

 

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