Por falar em água

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DESPERDÍCIO

Li na imprensa vereador da situação dizendo que quem esbanja água tem que ser multado. Concordo plenamente, aliás, isso tem que ser norma – a começar pelo SEMAE, o maior desperdiçador – mais ainda quando a água é abundante, não só quando está acabando. Porém, gostaria de lembrar ao vereador que seu partido é, de certo modo, também responsável pela escassez de água aqui e na região. Em vez de cuidarem das nascentes, das matas e das minas, priorizaram asfalto e concreto. Sem os devidos estudos esticaram o perímetro urbano para acolher interesses imobiliários. Trouxeram empresas a torto e a direito inchando a cidade; a demanda por água cresceu e as fontes diminuíram. Ficaram com o bônus. Agora querem que a população arque com o ônus. É sempre assim. Como seria bom o Brasil se não existissem políticos, pelo menos desse tipo!

MUITO PAPO E POUCA AÇÃO.

Consórcio PCJ, Sistema Cantareira, Grupo de Eventos Extremos, SEMAE, SEDEMA, ANA, DAEE, SABESP, SETESB, Ministério Público, etc. Um monte de organizações e de pessoas para cuidar – algumas exclusivamente – dos recursos hídricos e a situação chegou aos caos que chegou. Já que perguntar não ofende esse povo todo serve para quê além de promover palestras, encontros, seminários, reuniões, eventos? Sei que a estiagem atípica que atravessamos prejudica muito, porém vejo vertentes e minas sendo soterradas ou em completo abandono e nada se faz. Penso que se juntássemos os salários dessa gente com os recursos que consomem e os investíssemos na recuperação das matas ciliares e reabilitação das nascentes, certamente teríamos melhores resultados.

‘AVENIDA RIO PIRACICABA’

A turma da Barragem que fique esperta porque do jeito que o ‘progresso’ deixou o rio Piracicaba algum prefeito oportunista pode querer aproveitar sua calha seca para fazer ma avenida ligando Piracicaba a Barra Bonita a exemplo do que fizeram na Higienópolis, importante ramal ferroviário, que poderia ter sido reativado com as devidas adaptações e adequações. Um administrador de visão e ousado teria visto ali um sistema de transporte público sustentável e barato que ligasse Tupi, Bartira, Peória, Santa Izabel, Horto Florestal e adjacências com a cidade. Além de beneficiar milhares de trabalhadores seria uma atrativa opção de lazer.

‘EMPREENDEDORES DE SUCESSO’

Mais que à falta de chuvas, a lenta agonia das águas se deve à voragem do agronegócio, da monocultura, da agricultura predatória, dos criadores de gado, do setor imobiliário, de administradores públicos e políticos inconseqüentes; em Piracicaba, especialmente dos canavieiros. Muitos deles se enricaram à custa da exploração da mão de obra e da destruição do meio ambiente. Se tivessem sido justos com seus empregados e respeitado as leis da natureza ou compensado as agressões que causaram, duvido que se enricassem tanto. Água da terra não sai mais porque derrubaram florestas e matas ciliares; mataram os animais, soterraram nascentes, envenenaram terra e rios; assorearam corpos d’água e estrangularam a agricultura familiar. Dependemos das chuvas. Se não vierem beberemos garapa, tomaremos banho com vinhoto, comeremos açúcar e rapadura? Tidos pela sociedade como benfeitores – ajudam até igrejas -, empreendedores de sucesso, geradores de riquezas e empregos, na verdade são exterminadores da vida. “Seu apetite devorará a terra, deixando somente um deserto”. (Chefe Seattle, 1854). Enquanto isso as cadeias transbordam ladrões de salame.

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