As primeiras letras
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Na época dos vestibulares, é comum a divulgação na mídia das “pérolas” guardadas pelos colecionadores destas espécies genuinamente nacionais: os trechos de provas que se notabilizam, senão pela hilaridade, então pela tragédia que se abateu sobre o ensino como um todo.
De fato, é difícil achar graça na desgraça. E o que tem ocorrido com a alfabetização e o saber, em geral, é algo lamentável. Se o aluno chega ao vestibular praticamente semi-analfabeto, como completar a prova? Se ele mal consegue entender o enunciado das questões, como saberá resolvê-las? E se o que conseguiu aprender foi um português dos mais precários, como se sairá nas questões que exigem respostas escritas?
Estamos diante de um grande drama: os alunos de hoje concluem o ciclo básico com grandes dificuldades na redação. E isto diz respeito a uma única matéria: a língua pátria. Em termos de cultura, história, ciências, geografia, matemática e demais disciplinas afins, sabe Deus a quantas anda o aprendizado da moçada.
Os professores, certamente, se esforçam e lutam para levar o conhecimento e noções básicas da disciplina que lecionam. Como estará, hoje, a experiência do magistério nas escolas públicas? Com quanto sacrifício não estarão batalhando todos, diretores, professores, funcionários, coordenadores, para cumprirem bem sua missão dentro dos estabelecimentos em que atuam.
O grande antropólogo Darci Ribeiro, durante toda a sua vida, pregou o amor ao saber e ao conhecimento, insistindo que a escola deveria ensinar o principal aos alunos: o domínio da escrita e da leitura, além das quatro operações. Darci dizia que uma pessoa pobre, porém alfabetizada e conhecedora dos números, sempre teria condições de sobreviver, de escrever uma carta a um determinado órgão administrativo da sua cidade, reivindicando água, luz, asfalto, creche, melhorias.
Sem o domínio das primeiras letras, o analfabeto é alguém sem nenhuma dignidade. Trata-se de um cidadão completamente desprotegido, despojado de seus direitos, de sua cidadania. Ele não sabe aonde ir, a quem recorrer, como pedir ajuda para seus problemas, se não consegue fazer uma petição simples e elementar.
Todos, de qualquer classe ou nível, têm direito à ascensão social. Estudar, aprender, dominar um determinado conhecimento é a maior riqueza na vida de um ser humano e faz dele alguém digno, com capacidade para se sustentar e ocupar um lugar na sociedade, sendo útil, produtivo, participando do progresso e do bem-estar da comunidade onde vive.
Para alguém ingressar na faculdade, é necessário ter concluído o segundo grau. Então, que os professores, diretores e reitores estejam atentos. Talvez ajude no processo mostrar esta frase ao vestibulando, antes de ele entrar na sala: “A pata nada”. Leu em voz alta, pode prestar a prova…