Professus
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Montava a sala de aula com mesinhas de caixote, cadeiras, lousa e giz à sombra das árvores, no quintal. Os alunos eram os amigos imaginários e a professorinha, de 7 anos, brincava de ensinar. Cimara Pereira Prada cresceu, em Santos, em meio a livros e a cadernos. A mãe, Maria Nazaré, era professora e o pai, Eduardo, nunca parou de estudar desde que se formara dentista. As famílias de ambos migraram de Portugal e da Espanha e trabalhavam muito para oferecer estudo aos filhos.
Chegada a época dos vestibulares, Cimara preparara-se com a professora Irene, de Português, dona de um cursinho. Ingressara no curso de Letras na USP e, antes de ganhar o diploma, recebeu, da antiga mestra, o convite para lecionar — seu primeiro emprego. Dividia um apartamento em São Paulo com a irmã Cynthia, que cursava Letras e Sociologia. Com os amigos, aprenderam a fumar. Compartilhavam o mesmo vício do pai, que morrera, precocemente, aos 56 anos, vítima de infarto do miocárdio.
No início dos anos 1990, mudou-se para Piracicaba a fim de, no cursinho e no colégio CLQ, dar aulas de Português e de Redação, onde trabalharia até 2018, aos 65 anos de idade. Durante 19 desses anos, também, preparou jovens para o vestibular em seu curso particular de Redação, o CDL — Centro Dinâmico de Linguagem. Com o papel de transmitir conhecimentos, habilidades e valores aos alunos, preparou-os para enfrentar os desafios acadêmicos, profissionais e pessoais da vida, contribuindo para que se tornassem cidadãos dignos. Eu fui aluna dela em 1992. Naquele ano, prestei o vestibular para Medicina e, com nota alta na redação, conquistei uma vaga na Pontifícia Universidade Católica de Campinas, graças aos ensinamentos da professora Cimara.
Nas aulas, sempre, destacava sua admiração pelos jovens ambiciosos e, sobretudo, cheios de esperança, de energia e de vontade para mudar o mundo e fazer, dele, um lugar melhor para se viver. Essa convivência com eles motivou-a, ainda mais, a iniciar a militância política, quando se filiou ao PV e concorreu ao cargo de vereadora em 2020. Foi eleita como suplente da vereadora Silvia Morales pelo mandato coletivo A Cidade é Sua e exerceu o cargo durante o mês de outubro de 2023 na Câmara Municipal de Piracicaba.
Mãe de 3 filhos — Naê, hoje, com 44 anos, Mainá, 42, e Airan, 36 —, sempre, os incentivou a agir com o intuito de melhorar a realidade. Naê atua como psicóloga do Fórum de São Pedro, Mainá, formada em História, como revisora e editora de textos e Airan, jornalista em Americana, apresenta o Jornal Todo Dia na TV local. Atualmente, Cimara e Mainá, parceiras de trabalho, fazem a revisão de textos de diversas áreas, com clientes como o Ministério da Saúde, em Brasília.
Há 10 anos, Cimara parou de fumar logo depois do falecimento da mãe. Embora o processo tenha sido difícil, decidiu não mais prejudicar a saúde, já que, como consequência dos anos de fumante, o pulmão ficou frágil. Naquele momento, foi professora de si mesma.
A origem da palavra “professor” vem do latim professus, professar, em português, ou seja, declarar, publicamente, ou afirmar perante todos. Uma curiosidade: possui a mesma raiz etimológica do termo “profissão”, não por acaso. Professor é a primeira das profissões, já que todas só podem existir enquanto houver professores para ensinar.
Cimara, com seu nobilíssimo ofício, proporcionou a existência de inúmeros profissionais que a enchem de orgulho. Seus alunos, hoje, são médicos, engenheiros, químicos, arquitetos, jornalistas, advogados e até Ministros do Supremo. Todos, com mérito, galgaram seu próprio caminho, mas se apoiaram na base sólida do bom Português, da leitura crítica e da escrita impecável que aprenderam com a mestra.
*Dra. Juliana Barbosa Previtalli – médica cardiologista, integrante do Corpo Clínico da Santa Casa de Piracicaba e atende em seu consultório particular, com agendamentos por mensagem para (19) 97123-1361. É idealizadora do projeto antitabagismo “Paradas pro Sucesso”.
*Erasmo Spadotto – cartunista e chargista, criou a ilustração especialmente para este artigo.
A Província apoia o projeto e a campanha antitabagismo “Paradas pro Sucesso”. Para acompanhar outras crônicas desta série, acesse a TAG Paradas pro Sucesso.