Provocação

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Programas de TV querem nos fazer crer que quem mata, assalta, sequestra, invade terras, maltrata e abandona filhos; usa crack, bate na mulher, etc. é gente pobre. De fato, dados oficiais mostram que a grande maioria de presos provém da periferia; é jovem e de baixa escolaridade. Se, além disso, for preto e morar em favela, já nasceu bandido. Conforme os policiais que atendam a ocorrência, é julgado, condenado e executado ali mesmo. Raramente reportagens mostram a polícia invadindo condomínios chiques como faz em favelas e cortiços. “Quem é preso e morto são os pobres, os negros, os favelados. O que existe é uma guerra contra pobreza”. Julia Lemgruber, socióloga, ex-diretora do sistema penitenciário do Rio. (Folha 11.01.14).

Porém, todo mundo sabe que qualquer pessoa – abastada ou não – está sujeita a cometer crimes. Se pouco acontece com quem é rico, posso concluir que a solução para diminuir a criminalidade está em ter condições de acesso à vida digna. Dinheiro por si só não traz felicidade, porém, sem ele não se sustenta família, não se vive, ou vive-se como mendigo. Se todos os brasileiros tivessem renda suficiente para morar bem, comprar o que precisa e gosta, estudar, ter saúde, entretenimento, lazer, acesso a eventos culturais, etc. certamente não teríamos a quarta maior população carcerária do mundo e em contínua ascensão, pois, de cada 75 pessoas que deixam as prisões, 100 novas entram.  E das que estão presas 41% nem condenadas foram. . “É impressionante o número de pessoas que ficam presas por mais tempo do que deveriam apenas porque são pobres e não podem contratar um advogado”. (Alexandra Lechelson Szafir).

Nosso país não é violento. É injusto já que os 10% mais ricos concentram quase metade da renda do país. Esse é o grande crime. Ou é certo reter para si o que falta aos outros? Que pai de família não sente raiva tendo trabalhado mês inteiro e seu salário mal cobrir comida e vestuário? Poderá esse senhor viajar com a família ou comer uma pizza de vez em quando num bom restaurante? Que jovem aguenta ver sua mãe ralando noite e dia e ele não poder ajudar porque é proibido de trabalhar e pleno emprego somente após os 18 anos, e mesmo assim meia boca? Como se sente vendo colegas mais abastados esnobando supérfluo enquanto nem o básico consegue ter? “Um homem se humilha se castram seu sonho. Seu sonho é sua vida e a vida é trabalho. E sem o seu trabalho um homem não tem honra. E sem a sua honra se morre, se mata. Não dá pra ser feliz, não dá pra ser feliz”. (Raimundo Fagner).

A raiva existe dentro de nós. No entanto, só vem para fora se provocada. Existe provocação maior que a diferença social institucionalizada e a insensibilidade de quem tem muito mais que precisa? Segundo Paulo Pozzebon, Diretor Adjunto do Centro de Ciências Humanas e Sociais Aplicadas na PUC-Campinas “Só renuncia à violência quem recebe justiça; só crê em justiça quem tem pão e esperança”.

Insensatos pedem pena de morte, prisão perpétua, leis rígidas, polícia mais violenta do que já é por acharem que “bandido bom é bandido morto”. Querem liberação do porte de armas e redução da maioridade penal. Sabem nada. Não percebem que o monte de dinheiro que a elite joga fora construindo e mantendo prisões para se proteger dos marginalizados, é muito mais do que negaram para salários justos, habitação digna e educação de qualidade, bases de uma sociedade pacificada.

Aí, vejo pessoal da Assistência – grosso modo falando, jovens formadas em escola particular e sem noção da dureza da vida – tentando resolver a exclusão. Admiro a boa vontade da moçada, porém faz buraco n’água. Se o problema é econômico, como mostra a realidade, junta a fortuna que essa gente custa em salários, capacitações, abrigos, ONGs, CREAS, projetos, etc. repassa para os pobres. Eles sabem como fazer, certamente muito melhor, com menos custo, mais eficiência e menos frescura.

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