Que tiro foi esse?
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Que tiro foi esse, senhores, que derrubou o país e afundou com as finanças da população? Um tiro no pé do Congresso Nacional. Um tiro no escuro da nossa mais sinuosa política, mostrando o lado B de nomes aparentemente impolutos e confiáveis. Um tiro na economia do país. Um tiro que estraçalhou com a dignidade de milhões de brasileiros.
Que tiro foi esse, que fez de um partido uma sombra e nada mais? Que tiro eles se deram, senhores! Se desejavam um suicídio político, a bala acertou o coração da legenda partidária. E uma estrela se apagou, num final trágico e funesto, como teria de ser.
Que tiro foi esse, que fez da violência a marca registrada do nosso Brasil? Alguém tem dados sobre quantas mulheres já morreram, nesta última década, vítimas da insânia de ex-companheiros? A violência se espalha pelo país, mas nada parece ser tão criminoso como o que se passa no Rio de Janeiro, a cidade maravilhosa que esteve nas mãos de habilidosos ladrões do dinheiro público.
Ah, mas que tiro foi esse chamado Lava-Jato que pôs essa gente toda na cadeia? Alguém, dez anos atrás, poderia imaginar que a Polícia Federal e essa turma da Lava-Jato estariam afinadas, comandando este gigante aparato contra a corrupção e, sobretudo, dando voz de prisão aos criminosos?
E que tiro foi esse chamado juiz Sergio Moro? De onde veio este homem com sua força moral, sua capacidade extraordinária de não se deixar intimidar e manter-se firme no posto de quem precisa ouvir para emitir seu julgamento. O juiz de Curitiba apareceu de mansinho no cenário nacional, trazendo de volta um pouco de esperança de que a justiça se cumpra “neste país”.
Que tiro foi esse, que fez milhares de refugiados procurarem abrigo em outras nações, aventurando-se por mar e por terra, com a roupa do corpo, num êxodo que se transformou numa crise humanitária das mais dolorosas? Que tiro foi esse que fez com que alguns países fechassem suas fronteiras e outros abrissem seus braços acolhedores?
Que tiro foi esse, que fez do papa Francisco um dos grandes líderes do mundo, num momento em que a humanidade carece de liderança? Sua palavra firme e amorosa, cheia de caridade e de misericórdia, é um farol para todos, católicos ou não. Francisco se debruça sobre as grandes questões do ser humano, partindo do gesto de acolhimento, sem julgar, sem discriminar ninguém. Que o amor ao próximo seja a atitude radical.
Que tiro foi esse do “politicamente correto”, que fez cabeças globais caírem sem piedade? Não é negro, é afrodescendente. Não é anão, é de baixa estatura. Não é cego, é deficiente visual. Não é mais permitido usar determinados vocábulos, sob pena de processo e até mesmo prisão. Viram o que aconteceu com a moça tonta que chamou o goleiro Aranha de “macaco”? Bem feito!
Olha, haveria muitos outros tiros para comentar. Mas paro por aqui e encerro com alguns disparos doces e misteriosos, cujos projéteis são absolutamente invisíveis e fazem da nossa alma um canteiro em flor.
Que tiro foi esse, que nos atingiu no lado esquerdo do peito, a esta altura da vida, quando o coração pensava ter sossegado das suas investidas no campo do amor? Que tiro bem dado, ó Deus, o desta arma amorosamente lúcida, trazendo de volta o frescor da vida!
Um tiro destes, certeiro, deixa a criatura em estado de graça. Aquela beatitude de quem vê beleza em tudo e em todos. As pessoas são maravilhosas, o mundo é um paraíso, os problemas vão se resolvendo um dia de cada vez e Deus está ao nosso lado durante vinte e quatro horas. E nada nos atingirá!