Reciclador Solidário

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reciclagemTendo objetivos iguais e as mesmas funções, é possível que uma organização menos equipada consiga resultados melhores que outra em superiores condições?

Participei da Audiência Pública sobre a situação da coleta seletiva em Piracicaba realizada na ESALQ dia 17.05 passado pelo Ministério Público Estadual. Apesar de avanços obtidos com a Parceria Público Privada, feita com a empresa Ambiental em 2012, ficou evidente o descaso para com a Cooperativa Reciclador Solidário. Para a empresa, que chegou agora e vê no sistema nada mais que lucro – tudo. Para a Cooperativa – que em 2003 implantou com sucesso a coleta seletiva na cidade, e desde então luta por melhores condições de trabalho – quase nada.  Faltam maquinários; o barracão alugado não dá conta, é insalubre e não tem refeitório; os banheiros são insuficientes e precários. Interessante notar que mesmo com menos pessoal, equipamentos e caminhões coletores, quando a coleta era feita pela Cooperativa o resultado era melhor que o obtido agora pela empresa com muito mais e melhores condições. Como sempre, a empresa pensou no lucro e esqueceu o humano. Essa gente acha que dinheiro é tudo e que pessoas são meros componentes de logística.

Os cooperados viram na coleta seu ganha-pão e sonho de vida melhor. Com isso criaram laços de simpatia e empatia com a sociedade. A coleta alegrava a rua. Moradores faziam questão de separar os resíduos, e com melhor qualidade que agora. Muitas vezes o material era entregue nas mãos do catador, não raro acompanhado de doações para a Cooperativa. Simples assim: afeto gera afeto; respeito gera respeito. O que move o mundo para o bem são as relações positivas e não a economia.

A empresa cobre agora a cidade toda, coisa que a cooperativa jamais conseguiria nas condições em que se encontra. Porém, não há vínculos com os moradores, por isso os recicláveis vêm misturados a muito lixo, dificultando e onerando o processo. Simples assim: descaso gera descaso; frieza gera frieza. Além disso, não raro, o caminhão passa correndo e nada leva, muitas vezes para cumprir roteiro registrado no GPS – como no caso de minha rua. Por diversas vezes tivemos que ligar para a empresa para que entendesse as “pedaladas” praticadas por funcionários desmotivados e mal preparados que tem. O descaso é tanto que nunca vi um só comunicado entregue pela firma nas casas explicando como funciona o sistema de coleta de resíduos sólidos praticada no município. Também não tenho informações de que essa empresa tenha ido às escolas, igrejas, empresas, centros comunitários, etc. a fim de orientar, conscientizar e motivar a população para ter sua adesão.  Quer que as coisas funcionem por adivinhação.

Com tantos erros primários de planejamento, falta de intuição e bom senso dá para perceber que a empresa com quem foi firmada a PPP carece de competência e preparo para lidar com a questão. Talvez o tratamento desigual entre a Cooperativa e empresa seja porque a entidade jamais terá condições de ajudar campanhas políticas. Além do mais, catador de recicláveis não dá votos e nem visibilidade, apesar de ser mais necessário que vereador, deputado, senador, ministro e até general, já que com seu serviço sujo e insalubre ameniza um pouco o impacto nefasto causado ao planeta pelos que não dominam sua voragem consumista; e fazem de graça o que deveriam fazer empresários irresponsáveis que estão nem aí com logística reversa.

Não sei se para inglês ver, mas a notícia boa foi que a prefeitura pretende construir junto com a empresa, a sede da Cooperativa Reciclador Solidário. Nada mais que obrigação. É o grande sonho dos catadores. Além de melhorar sua autoestima, poderão se constituir numa empresa formal, contratar mais gente, adquirir novos equipamentos e admitir mais pessoas.

Que os anjos digam amém.

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