RIPOLÂNDIDA, AGAIN!

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Piracicaba encerra o ano de 2015 alvoroçada. Não pelas estripulias da tia Dilma, mas, pelo boato de que poderá ser instalado um parque erótico na região. O beatério tremeu na base. As genitálias em chamas. Os clarins soaram o alerta geral, acordando as forças preservadoras da moral e dos bons costumes. Em polvorosa a Câmara dos Vereadores, em pânico os Arautos do evangelho, carreata de evangélicos brandindo bíblias, a União dos Carismáticos Contra a Luxúria, a Liga das Senhoras Católicas… pânico geral. Só não ouvi a reação dos padres e freiras. Eles estão mais atentos ao sexo dos anjos do que aos penduricalhos dos mortais comuns.

O que será de Piracicaba com o parque erótico? vociferam os guardiões da moralidade! E nossas famílias? E nossas crianças? Cruzes! Abaixo o culto ao falo! Longe de nós a adoração ao deuses Eros e Afrodite. Pra bem longe de Piracicaba o EROTIKAND. Nós ficamos com a Virgem Maria, Santa Maria Goretti, Domingos Sávio.

Gente, que coisa mais bisonha e bizarra! Que coisa mais antiga! Em pleno século XXI piracicabanos achando que um parque erótico seria a extensão do clube do capeta na cidade. Piracicaba esquece que a liberalidade sexual faz parte de sua história. Piracicaba foi uma das primeiras cidades a participarem da revolução sexual dos anos 50, 60, ao instalar uma zona de meretrício, que ficou famosa na região e no estado: A “Ripolândia”. Os mais velhos lembram e até com saudades. A maior zona de meretrício que Piracicaba conheceu. Aliás, conforme testemunha o jornalista Cecílio Elias Neto, em “A Província”, a “Ripolândia” não era apenas um lugar de exercício da sexualidade, mas um espaço boêmio de diversão, de alegria, de encontro de amigos”. Inclusive um lugar estreitamente ligado ao poder político, sendo frequentado por homens públicos de alto coturno, como os governadores Laudo Natel e Ademar de Barros. A “Ripolândia” ajudou a influenciar muitas decisões políticas de Piracicaba.

 Quantos piracicabanos, hoje de cabelos brancos, ou sem cabelos, amadureceram sua sexualidade na Ripolândia, que era “aonde iam os rapazes depois das 22hs, após deixar sua namorada em casa!”

A Ripolândia não deixou Piracicaba menos nobre ou mais devassa. Deixou, ainda que timidamente, a sexualidade mais desreprimida. Menos tabu. Sem o ranço do pecado. Melhor que execrar a instalação do parque erótico como lugar da perdição, vamos abrir a mente e enxergar nela a oportunidade de uma sexualidade mais desreprimida, mais natural, mais alegre.

Mas, isso escrito por um sacerdote? Por que, não? Um padre que conceitua a sexualidade como dom de Deus e da natureza e não como produto do capeta. Afinal eu sou resultado do sexo de meus pais… um espermatozóide e um óvulo com 77 anos de idade.

Pe. Otto Dana- Diocese de Piracicaba

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