A sabedoria do realismo

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Lucky

Foto: Reprodução Google

Dirigido por John Carroll Lynch, ‘Lucky’ é um filme para fortes. Última filmagem do ator Harry Dean Stanton, célebre, entre outros pela sua atuação, não menos que excepcional, em ‘Paris Texas’, de Wim Wenders, a obra centra as atenções num protagonista que, embora fume feito uma chaminé, tem excelente saúde, mas, numa manhã, tem um desmaio repentino.

O médico alerta que a máquina de seu físico deu um primeiro sinal de que pode falhar a qualquer momento. O que poderia ser o primeiro passo de uma tragédia interior para muitos; torna-se, para Lucky, apenas mais um motor para a existência, que inclui uma disciplinada rotina e algumas reflexões existenciais não menos do que polêmicas.

É preciso ter serenidade e estômago para ouvir as falas do protagonista sobre o significado do realismo, como começo, meio e fim de tudo sem espaço para a existência de alma ou algo semelhante; e ainda para acompanhar o entendimento da realidade de Lucky como uma construção mental de quem a enuncia, ou seja, só existe aquilo que eu acredito que existe. E, nesse aspecto, alguns diálogos do filme são autobiográficos do ator, como o depoimento feito pelo personagem sobre a sua participação como marinheiro/cozinheiro numa embarcação durante a Segunda Guerra Mundial

Dessa maneira, viver/morrer ou interpretar o mundo se dá dentro de parâmetros muito pessoais. Um dos amigos do protagonista, por exemplo, tem uma tartaruga que foge e o sofrimento dele termina quando ele se convence de que ela não abandonou, mas apenas foi buscar algo melhor. E pode voltar a qualquer hora… Quanta sabedoria!

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