Salão de Caricatura de Piracicaba – 40 anos
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O ano era 1974. O cenário era a Casa de Artes Plásticas de Piracicaba. Ali, ocorria, no período de 22 de junho a 7 de julho, o 1º. Salão de Caricaturas de Piracicaba. A ideia partiu do artista plástico Edson Rontani, então com 42 anos. Havia sido planejada no primeiro semestre do ano anterior. A intenção era reunir desenhos que ele mesmo expôs de 1970 a 1974 na Galeria Brasil, situada ao lado da Livraria Brasil, no Edifício Georgeta Dias Brasil. A mostra teve sequência com outras duas edições, realizadas nos anos posteriores.
A Galeria Brasil era um ponto de passagem do piracicabano. A população se encontrava para rever amigos, para namorar, para passear no entorno da praça José Bonifácio e para ver as vitrines do comércio situado na rua Governador Pedro de Toledo. A região funcionava como um Shopping Center da atualidade. Tinha cinemas (Broadway, Rivoli, Politeama e Colonial), gastronomia e boemia (Daytona, Bar do Bule e o Supermercado Guerra, além das guloseimas do seu Passarela), informação (O Diário, Jornal de Piracicaba, Rádio Difusora, Rádio Alvorada e Rádio Educadora), além de pontos religiosos (Catedral de Santo Antonio e Igreja São Benedito). Tudo isso motivava o piracicabano a procurar o “Centro” da cidade para seus afazeres sociais, numa época em que ainda respirava-se o susto com a queda do Edifício Luiz de Queiróz, o Comurba, cuja derrubada total ocorreu em 1971.
A cultura tinha sua representação nesta região em que seus expoentes circulavam e sentavam nos bancos da praça para jogar conversa fora. O Hotel Central ainda fazia parte do cartão de visita da cidade.
Rontani expôs, de 70 a 74, o “Mural”, cartolinas onde desenhava charges, cartuns e caricaturas com os temas da época. Dentre os cartuns, desfilavam os candidatos a prefeito, personalidades artísticas, além do Nhô Quim, mascote do E. C. XV de Novembro. Ele tinha acesso a um quadro de madeira, com uma tampa de vidro, situada logo no início dos expositores da Livraria Brasil, Estes expositores eram pequenas vitrines nas quais eram colocados – para deleite do consumidor – produtos a venda como livros, material escolar e artigos de época (Páscoa, Carnaval e Natal).
Nestes quatro anos, Rontani colecionou boa parte dos acontecimentos sociais, retratando através do nanquim aquilo que era visto pelos jornais e ouvido pelas emissoras de rádio. Destas obras, saiu a ideia de uma coletânea que recebeu o aval do poder público para ser exposta na Pinacoteca Municipal, na época talvez o único ponto de exposição artística do município. A Casa de Artes Plásticas era ligada à Coordenadoria de Educação, Saúde e Promoção Social, a qual tinha como titular Antonio Oswaldo Storel. O diretor era Angelino Stella. De 22 de junho a 7 de julho o espaço abrigou cerca de 40 trabalhos de Rontani. Foi uma quebra de paradigmas, pois a Casa de Belas Artes era destinada apenas à telas a óleo e esculturas.
Um ano mais tarde, de 12 a 20 de julho, o 2º. Salão de Caricaturas de Piracicaba, apresenta os trabalhos de Rudinei Bassete, sobrinho de Rontani, a quem inclinara seguir nas artes gráficas. Rudinei tinha 15 anos de idade e considera, hoje, que os trabalhos, eram puramente ingênuos. Mas não há de se negar que suas obras serviram para cutucar a ordem social de então. Bassete concluiu, anos mais tarde, a graduação em Engenharia Civil, e presidiu da EMDHAP (Empresa Municipal de Desenvolvimento Habitacional de Piracicaba) nas gestões Mendes Thame (1993 a 1996) e Humberto Campos (1996 a 2000). Foram 50 obras expostas.
Na sequência, Rontani organiza o 3º. Salão de Caricaturas de Piracicaba, entre os dias 10 e 24 de julho de 1976, de novo na Pinacoteca Municipal. Nesta ocasião, o Salão conta com obras do próprio Rontani, do mestre Renato Wagner, Rudinei Bassete, Rol e Clew (pseudônimos utilizados pelo próprio Rontani). Foram expostas reproduções de Belmonte, em comemoração aos 80 anos do nascimento do cartunista que criou o personagem Juca Pato, veiculado no jornal A Folha da Manhã.
Nesta ocasião, a equipe da Rede Globo, Canal 5, foi recepcionada pelo diretor da Pinacoteca professor Flávio Moraes de Toledo Piza para gravação das exposições que ali se encontravam, a qual foi apresentada no jornal Hoje, no dia 13 de julho. Esta foi a última mostra do Salão de Caricatura de Piracicaba.
Parte deste material foi preservada. Estuda-se uma retrospectiva em 2015 junto à Secretaria Municipal de Ação Cultural. Para resgatar a iniciativa, encontra-se na internet o site www.salaocaricaturapiracicaba.com.br cujo objetivo é relembrar este pioneirismo dos cartuns e das caricaturas locais.