Santo dos Anjos

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Nada foi tão doloroso para o Brasil, na quinta- feira, como a morte do ator Domingos Montagner, que deu vida ao fundador da Cooperativa Agro-Grotas, na novela de Benedito Rui Barbosa, da Rede Globo. Benedito chorou dando entrevista. Santo dos Anjos brilhou e encantou. Ó, Velho Chico! Tragaste o corpo e a vida de um dos mais promissores atores da dramaturgia brasileira.

O público espera o final da novela, o desfecho que promete ser justo e feliz, unindo pares e punindo criminosos. Consta que os atores da primeira fase voltarão para encenar os últimos capítulos, poupando Camila Pitanga do sofrimento. Santo e Maria Teresa, o par romântico que nos emocionou durante todos estes meses.

Se poucos conheciam o seu verdadeiro nome, agora Domingos Montagner se torna inesquecível e imortal. Professor de Educação Física, foi ter aulas de circo para aprimorar sua prática, sua pedagogia. No circo, o encanto de trabalhar com os artistas, fazer o palhaço, representar.

Uma trajetória como muitas, de tantos que aspiram à vida artística, à televisão e ao teatro, mas tudo de forma muito simples e muito humilde, segundo afirmam os que conheceram e conviveram com Domingos. Era visto no bairro do Tatuapé, onde morava, na Capital. Bom pai, bom marido, bom chefe de família. Bom ator. Boa pessoa.

Acho que por isso a perda dói tanto. Comedido, simples, sorrindo no seu rosto de bom moço, com aquele jeito de alguém incapaz de uma maldade, de uma grosseria. Algumas pessoas nos passam esta imediata imagem de integridade, esta luz, esta honrada decência.

O ator protagonizou na vida o que representou na tela. Santo foi procurado por Teresa e Bento, nos episódios em que era dado por desaparecido. Na quinta-feira, o corpo do ator também desapareceu nas águas profundas do rio. Mas a vida não tem o enredo do folhetim, e os índios não estavam lá para salvá-lo. A vida imita a arte, sim, para que nossos sentidos não se percam da realidade.

Santo dos Anjos está nas alturas. Está na glória dos anjos, definitivamente. Choramos com ele e com Bento a morte do capitão Rosa e do pai, Belmiro dos Anjos. Santo corajoso, que por décadas lutou com a terra e enfrentou o poderio dos coronéis.

Roga por nós, Santo! Inferniza os políticos de Grotas, Bento! Cultiva a terra, Miguel, ao lado de Olívia. Reza, dona Piedade, acende as tuas velas. Recolhe-te, Luzia, veste teu luto agora, que é de verdade. Força, professora Beatriz, candidata à prefeitura da cidade, na busca de justiça e de melhores condições de vida para o povo.

Um pequeno grande retrato do nosso país? Uma poderosa família oprimindo os lavradores, impedindo que andem pelas próprias pernas, tirando-lhes o lucro desmedido, perpetuando a seu favor influências políticas e econômicas.

Ah, Coroné Saruê! Nem o senhor nem dona Encarnação precisaram mandar matar Santo dos Anjos. Ele morreu nos braços do rio São Francisco. Morreu de verdade, para comoção nacional. Morreu como um herói, destes de novela, que nos emocionam e, literalmente, nos fazem chorar.

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