Separar o que Deus uniu
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Marcha Nupcial. A noiva entra radiante. Risos e lágrimas se entrelaçam. Em dado momento o celebrante diz: “O que Deus uniu o homem não separe”. Com toda razão. Porém, será que Deus realmente une todos os que se casam na Igreja, mesmo gente materialista, compulsiva, viciada e ciumenta; gente que vive de aparência, não sabe dialogar; não tem compaixão e respeito? Muitos casais vivem juntos, no entanto, separados fariam menos mal à sociedade, a si e aos filhos. Jovens usuários de drogas, arrogantes ou complexados que conheci assim não nasceram. Seus pais os tornaram. Nem todo mundo tem vocação para o casamento, menos ainda para a paternidade.
Contudo, mesmo continuamente agredida por pessoas que se juntam sem maturidade para sustentar compromissos, e apesar dos intensos ataques desferidos pela mídia, pelo Estado e pelo Poder Econômico, a família subsiste. Laços misteriosos e poderosos a sustentam. Tão poderosos que marcam vidas para sempre, tanto para o bem quanto para o mal à medida que se é ou não fiel aos seus princípios. Nada até agora foi capaz de substituí-la. Se o ser humano não conseguiu inventar algo melhor que ela, que não separe o que Deus uniu. (Mc. 10,9). “O Amor primeiro, aquele entre nossos pais e filhos, vai determinar nossa expectativa de todos os amores que teremos. Para saber defender-se no terreno violento em que vivemos, é preciso ter uma sólida raiz de afetos”. (Lia Luft). Deus inventou a família; o homem, a separação. No entanto, não é só divórcio que separa o que ‘Deus uniu’.
Separa o que Deus uniu a família que nem aos domingos se reúne em torno à mesa. Comer vem se tornando problema para os humanos. Cada qual no seu canto come-se para matar a fome, mais que do estômago, fome de aconchego. Cozinha abandonada tem a ver com doenças ligadas à alimentação errada. Obesidade ou anorexia são formas de chamar a atenção. Aos domingos come-se em restaurante porque a mulher trabalhou fora a semana toda e quer descanso. Come-se o pronto, cheio de sódio e conservantes. Hoje em dia ‘ganhar a vida’ vale mais que vivê-la.
Igualmente separa o que Deus uniu o bunda-mole que em vez de problemas de casa resolver em casa, vai atazanar sogros, pais e parentes. Separa o que Deus uniu a família que trocou a conversa, a oração e as brincadeiras pela TV e internet. Cada um no seu espaço procurando respostas, muitas das quais estão do outro lado da parede. Separa o que Deus uniu pais desinteressados no que pensam, sentem e fazem os filhos. Dão muitos conselhos que não batem com a vida que levam; falam muito e ouvem pouco, ou pior ainda, deixam que o tempo cicatrize feridas e dilua mal entendidos. Compensam sua omissão com concessões gratuitas e perigosas, ou com supérfluos materiais.
Separa o que Deus uniu o empresário que, além de estar nem aí com a família de seus funcionários, não lhes facilita a vida na hora em que filhos adoecem, muitos deles, aliás, por causa do regime estressante de trabalho dos pais. Separa o que Deus uniu o poder público, quando a Justiça tira crianças de famílias pobres a torto e a direito sem antes tentar todas as formas de reabilitá-las. Na verdade destroem vidas, já que nem abrigos, nem adoção, nem casas-lares, etc. são capazes de substituir a família de origem por pior que seja. Mais tarde, essas crianças quererão saber de seu passado e ninguém lhes explicará. Elos perdidos para sempre. Se a montanha de dinheiro gasta em sistemas de abrigamentos e acolhimentos fosse diretamente direcionada a essas famílias pobres, e gasta de acordo com um plano monitorado, duvido que a maioria não se reabilitaria. Governos constroem presídios no interior já que preso perto dos familiares se recupera melhor. Tivessem cuidado da família antes nem de presídios precisaríamos.
“A família, base da sociedade, tem especial proteção do Estado”. (Constituição Federal Brasileira). Pode crer!!!