Seres Humanos

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Recentemente, recebi um e-mail onde se pedia que escrevêssemos algo sobre “seres humanos”. De minha parte, tenho a dizer, com grande alegria, que as pessoas são diferentes. Ponto final. E que todos devem ser respeitados do jeito que são, pois é esse mosaico humano que torna tudo tão fascinante sobre a face da Terra. Cada um traz consigo o seu solo próprio, a sua bagagem pessoal, sua história de vida.

Cada ser humano carrega em sua alma a essência de sua natureza. Ser como se é faz parte de um conjunto biopsíquico, de uma riqueza incomensurável. Uns tiveram uma infância feliz e saudável; outros sofreram e foram oprimidos ou vieram de lares desestruturados. Quem passou por um trauma duríssimo quando criança, certamente terá dificuldades de superá-lo ou então irá suportar esta dor, pelo aprendizado da sobrevivência diária.

Cada um possui o seu histórico pessoal, o seu DNA, a sua concepção como pessoa e isso é território sagrado em cada ser humano. Então, de repente, olhamos para alguém que nos parece transmitir uma tristeza eterna. Se tivermos bondade suficiente em nosso coração, saberemos como tratar essa pessoa. Com um pouco de tato, de cautela, não tocaremos na ferida interior, pronta a sangrar a qualquer momento.

Do ponto de vista da pedagogia, busca-se a compreensão dos elementos formadores do caráter, da personalidade da pessoa e da forma como ela desenvolveu suas potencialidades. Até na Palavra de Deus encontramos a sabedoria necessária, quando lemos que “muitos são os dons, mas um só o Espírito”. Podemos entender que o mesmo Espírito nos anima a todos. é igualmente aquele que confere a cada pessoa um dom especial. Daí os iluminados para a filosofia e as artes; os matemáticos; os músicos; os poetas; os cirurgiões e os que parecem possuir pendores para um pouco de tudo…

No mundo de hoje, é cada vez mais difícil encontrar pessoas realizadas, centradas, equilibradas. Como diria Caetano Veloso, “de perto ninguém é normal”. Conhecemos alguém e, no minuto seguinte, esta pessoa já está nos contando o inferno que é a vida dela… Vemos que pouca gente está vivendo em paz, com equilíbrio e alegria. Há muito desgosto na vida das pessoas, problemas de toda ordem, infelicidade, desacertos, e também muita luta por parte da maioria.

Contudo, se há uma tecla que merece ser martelada, é esta: é preciso entender as pessoas, compreender cada um em seu estilo pessoal. Mas, se alguém deseja mudar em alguma coisa, há que ter força de vontade, respeito por si mesmo, um firme propósito de fazer de si uma pessoa melhor. Talvez mais maleável, mais flexível, mais “fácil de se conviver”.

Quem carrega máscaras irá deixá-las cair lá na frente, porque é impossível segurar a pose o tempo todo. A coisa mais bonita no ser humano é a autenticidade, ser verdadeiro, não fazer tipo. Uma pessoa interessante é sempre aquela que tem opinião própria, que construiu um caminho pessoal pelo qual trilha com segurança e autoridade. Alguém com domínio sobre a própria vida, que sabe respeitar o próximo, que transita sem preconceitos pelo universo das ideias e que também reconhece seus próprios limites.

Seres humanos! Quanta diversidade!… Hoje, já tratamos com naturalidade até mesmo a diversidade sexual, aceitando e compreendendo pessoas com orientação sexual diferente da nossa, buscando acolher, partilhar, respeitar. As pessoas são diferentes e o convívio respeitoso entre todos resulta na paz. A paz é fruto da justiça. Onde não há justiça, não há paz. Se todos se tratam com igualdade, fraternidade e respeito; se cada um vive de forma a não avançar nos direitos do próximo, encontraremos justiça e paz.

Seres humanos são simples e são complexos. E é essa diversidade que faz a beleza da vida. Uns são calados e introspectivos; outros são falantes, ruidosos e alegres. Uns conseguem chorar e desabafar as dores da vida; outros não demonstram nem que estão com dor de dente. Não perdem a pose por nada. São os chamados “duros na queda”.

Cada criança tem o seu ritmo. Umas andam com 10 meses, outras depois de um ano; umas falam cedo, outras demoram um pouco mais. E todas irão se desenvolver, à sua maneira, porque cada ser humano tem um ritmo. E esta premissa pertence a cada um, na sua evolução, na sua vida afetiva e no seu desenvolvimento biopsíquico. Um ritmo que segue o respiro interior do universo – uma árvore respira, a Terra se mexe, nada é estático e parado. Tudo possui um movimento próprio e vital.

Seres humanos! Como cada um é especial! Mesmo os mais geniosos, difíceis e insuportáveis – mesmo estes são belos e possuem o brilho intrínseco da pessoa humana. Toda pessoa carrega um valor em si mesma. Cada um possui uma dignidade como ser humano e deve ser respeitado como tal. Não importa se a pessoa é um prêmio Nobel ou um varredor de rua. Ambos são dignos, em sua grandeza particular.

Temos de compreender tudo isso para vivermos em harmonia com o próximo e conosco mesmos. Entender que cada um tem um caráter, uma personalidade, um gosto pessoal. E que ninguém nasceu para viver sob o jugo do outro. Todos somos criaturas livres e fomos criados para essa maravilhosa liberdade.

Se alguém se casa, não é para passar a existência numa redoma ou viver prisioneiro do outro. Ambos têm de crescer no amor, no relacionamento, na vida a dois. Se um sufocar o outro, há algo de errado na relação, pois amor é vida, é liberdade, é alegria!

Que Deus nos proteja a todos, Ele que nos fez tão iguais e ao mesmo tempo tão diferentes!…

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Marisa Bueloni é formada em Pedagogia e Orientação Educacional e é membro da Academia Piracicaba de Letras – [email protected]

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