SKOLÉ – PARTE DOIS

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imagesPor errar o foco, a escola – grosso modo – continua pregando remendos e apostando em ações que, isoladas nada resolvem como melhora na infraestrutura: carteiras, prédios, equipamentos, distribuição gratuita de mochilas, etc.; abonos para professores; aprovação automática; cursos de reciclagem; assistencialismo; aumento nas dotações e gastos; material didático sofisticado e descompromisso com alunos ‘difíceis’ – sendo este um dos principais indicadores de que tudo precisa mudar. “No 2º semestre os professores estão mais cansados, por isso o nº de licenças cresce”. A Tribuna 17.08.11. “Para o presidente do Sindicato dos Servidores Públicos de Piracicaba, os servidores estão sobrecarregados o que gera inúmeras doenças estresse”. (Jornal de Piracicaba 28.10.12)

“As escolas estão preparando mão de obra. Não estão preparando cidadãos”. Cecílio Elias Neto. (A Tribuna 23.12.12). Os alunos que se submetem a este sistema de aprendizado o fazem por trazer valores plantados na família como respeito às instituições e principalmente por verem na escola a porta de acesso à escalada da emancipação econômica. Porém “Casos de evasão escolar lideram queixas nos Conselhos Tutelares. Dados do primeiro semestre mostram 367 notificações de freqüência irregular de alunos…”. Conselheiros e a própria presidente do Conselho da Criança ligam evasão escolar ao uso de drogas. (JP 31.10.12). Apesar de precipitada e arbitrária, tal conclusão além de comprometer ainda mais a escola por insinuar ser menos atraente que a droga, aponta a falta de integração nas políticas públicas.

Para complicar, assistimos a um descomparecimento dos adultos, a falência dos laços familiares afetivos, a irresponsabilidade da sociedade que põe os adolescentes no mundo e lava as mãos. A mulher entrou no mercado de trabalho pra valer deixando para traz uma série de questões a resolver. Às mulheres das camadas mais pobres foi imputado um enorme fardo que lhes suga as energias. Apesar de sustentáculo da sociedade, não é a família, mas o sistema econômico que dita regras, inclusive o tempo de convivência. No entanto, “Pesquisadores da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP) investigaram por que jovens se mantinham longe das drogas, apesar de cercados de traficantes por todos os lados. Compararam-se usuários e não usuários das mesmas comunidades, todas marcadas pela violência e pela pobreza. Resultado: a combinação de laços familiares sólidos, informação sobre o risco da dependência e religião apareceu fortemente associada aos que não se envolviam, ou pelo menos sem abusos, com drogas. É como se fosse uma vacina… Pais que ajudam os filhos a desenvolver a autoestima e projetos de vida podem dormir menos intranquilos”. (Gilberto Dimenstein – Folha de São Paulo 11.07.10).

A vida da classe popular ficou mais dura e o tempo mais curto. Ora, vida sem aconchego, sem sentido e esperança gera um comportamento frio que leva à busca da autodestruição e à dos outros.  Os jovens querem se sentir seguros e protegidos. Para muitos a turma tomou o lugar da família; virou base de poder e pertencimento numa sociedade onde apesar de eternamente vistos como futuro, são descartados no presente.

Essa realidade explode na escola que não a compreende por ter se fechado aos sinais dos tempos, ter perdido o contato e ignorado sua razão de ser que é o aluno com suas relações. Mais que conflitos, que surgem a partir da divergência de interesses e da discordância de opiniões, temos conflitos provocados pela imposição de papéis e padrões. Ora, “Os conflitos não constituem obstáculos à paz, porém a resposta dada aos conflitos pode torná-los negativos ou positivos, construtivos ou destrutivos, razão pela qual suas formas de resolução ou mediação tornam-se foco de atenção e intervenção”. (Guimarães, 2003). (Continua).

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