Só para relembrar…

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fotos-de-borboletas-voandoBons modos, educação, saber comportar-se, ainda que com simplicidade, nos mais diferentes lugares e situações sociais, é coisa que se aprende desde criança, dentro de casa. Lembro-me até hoje do primeiro concerto de piano a que fui convidada a assistir, menina ainda, e advertida para não tossir.

Antigamente, falar alto na igreja era algo comparado a pecado mortal. Minha mãe não permitia conversa durante a missa, sobretudo enquanto o padre fazia o sermão. As roupas das mulheres eram recatadas. Nenhuma de short.

Na minha juventude, era uma afronta ir ao cinema de calça comprida. O traje correto era vestido ou saia, e sapato social. Aos homens eram permitidas poucas cores para o vestuário: calça azul-marinho ou marrom e a camisa branca ou bege. Sim, algumas listras e o belo xadrez. Ai do homem que se arriscasse numa camisa cor-de-rosa ou estampada.

Creio que a bênção maior de nossas vidas foi a calça jeans, naquele tempo conhecida como “calça rancheira” aqui no interior. Começou com a “calça Lee”, o ouro do guarda-roupa. Quem tinha uma calça desta tinha tudo. Surgiram novas marcas e modelos, e hoje a calça jeans é uma democracia de caráter político. Sem contar que deixa todo mundo lindo.

Glória das glórias era conseguir, aos 15 anos, passar pelo porteiro do cinema e assistir ao filme proibido para menores de 18.  Os filmes “proibidos”, comparados aos de hoje, eram pura inocência. E tinha a história da carteira de estudante.

Iniciado um namoro, era de bom-tom que a carteira da moça ficasse com o namorado. Rompido o romance, a ansiedade arrasava o coração no momento de se “devolver a carteirinha”. Eu passei por isso. E ao se devolvê-la, estava tudo terminado. Para ter certeza de que um namoro havia chegado ao fim, dizia-se: “acabou mesmo, ele até já devolveu a carteirinha dela”. Não era lindo?

Estas lembranças testemunham uma época de sonho. Parece coisa de um anacronismo risível. Contudo, esse tempo existiu de verdade.  As pessoas eram bem educadas, se visitavam sem aviso prévio, e havia respeito ao próximo. Por mais que os valores se modernizem e ganhem novos conceitos, ou que tudo fique absurdamente descontraído e sem etiqueta alguma, como é belo encontrar gente que ainda se porta com elegância e educação.

O mundo carece de doçuras, de gentilezas. Tão raro ouvir “por favor”, “com licença” e “muito obrigado”.  Sorrir, dar os parabéns, mandar um e-mail carinhoso, fazer um elogio, soprar um beijo de longe, acenar do carro, dizer “eu gosto de você”… Sou uma incansável batalhadora das delicadezas e da polidez. São atitudes que tornam o mundo mais habitável, mais humano e mais bonito.

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