Soneto da Impiedade
Os textos de diferentes autores publicados nesta seção não traduzem, necessariamente, a opinião do site. Sua publicação obedece ao propósito de estimular o debate e de refletir as diversas tendências do pensamento contemporâneo.
De tão grande o engano, fez-se oculta
A lua, escultora de quimeras
De vergonha não vejo a nossa era
Nem crua, desarmada ou prostituta.
Se me olho, só vejo tal cratera
Entalhada por uma infância culta
Onde só a mentira foi adulta:
O inferno virava a primavera.
Me lancei ao mar pela catapulta
Porém, ainda no ar da esfera,
Percebi meu erro sem consulta.
Quis no céu agarrar feito uma hera
E, no tapete da mãe d’água oculta,
Mergulhei na má-sorte qual megera.