Sonho – o combustível da vida

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bexiga-balões de festa

Foto: Reprodução Google

Às vezes, sentimos vontade de filosofar e de manter um gentil contato com a poesia, sobretudo para driblar a aridez destes tempos, nesta convulsão política, econômica e moral que assola a nação brasileira. Em toda parte, só se ouve falar do desgoverno, da falência do sistema e suas bases corrompidas.

Mas a verdade é que o país atravessa mesmo um momento difícil. Nem é preciso abordar a inflação. Ela existe e o trabalhador sente no seu apertado bolso. Todos nós sentimos.  E a corrupção que varre nossa pátria, de norte a sul? A voracidade de muitos políticos é irracional. Não tem limites.

Nestas últimas semanas, o país sofreu o impacto da paralisação dos caminhoneiros – um protesto justo, que ganhou o apoio e a simpatia da população. Vimos cenas as mais estapafúrdias, gente se estapeando em postos de combustíveis, frentistas sendo agredidos verbalmente pelo preço cobrado por litro ou como se tivessem culpa da gasolina ter acabado na bomba. E filas, muitas filas. Dizem que brasileiro curte uma fila… Conhece gente, bate papo, olá, tudo bem, como vai?

Mas, vamos parando por aqui, para tratar das coisas simples e belas. Elas existem e estão ao nosso alcance. Basta acionar aquele sexto sentido capaz de enxergar o invisível, de pressentir a beleza que chega sem avisar. Uma rosa inesperada num jardim, uma estrela brilhante que nos espia do alto céu. A brisa da tarde outonal. Estas delicadezas de Deus para conosco.

Que meu texto seja leve, para acalmar a ira do leitor com o possível aumento dos impostos e o preço dos legumes. Tentemos algo do nosso cotidiano mesmo, o doce da padaria, o livro amado, a música no rádio, a blusa de lã amada – estas  pequenas dádivas, capazes de fazer sonhar o nosso coração.

Como de costume, meu texto evoca uma paisagem possível de ser vista em sua perfeita nitidez, apesar da sépia do tempo. São fotografias de uma pureza única, tanto para a elaboração das palavras quanto para o deleite de recordar. O corpo envelhece, mas a alma não. Toda pessoa guarda uma história de vida em seu íntimo e isso faz parte de um compartimento sagrado. Cada um é esse “eu” pleno, inteiro, digno. Creio que o mais difícil de envelhecer é lidar com as lembranças. Esta é a parte mais dolorosa.

Lembrar o tempo de estudante, os bilhetes deixados sobre a mesa da cozinha, pedindo para minha mãe me acordar bem cedinho. Prova de matemática, era preciso dar uma última revisada na matéria e, enquanto ela passava o café maravilhoso, as equações corriam pelos meus olhos.

A rosa jogada no terraço próximo ao jardim era recebida com a alma em chamas. As serenatas que minhas irmãs e eu ganhávamos dos nossos amores, a expectativa do sábado, a beleza da juventude saindo pelos poros – essas maravilhas me fazem voltar no tempo e chorar.

Mas não havia ventura maior que essa: passar de ano, merecer o elogio dos pais e se deliciar com as férias. Esperar pelo Natal, com aquela sensação ao mesmo tempo leve e pesada dentro do peito – coisa que a época natalina me causa até hoje.

As imagens correm numa sequência linda e em cada canto da casa há uma foto, uma lembrança daquilo que jamais ficará perdido no tempo, porque está bem vivo no coração. Os dias se sucedem na lógica da vida que nos parece meio sem lógica…

Mas existem as coisas simples e belas, as que nos transportam ao Paraíso. Sobretudo, existe o sonho. Sonho em construir minha casa no campo – sim, ainda sonho! Ela será pintada de amarela, a cor do sol, pois sou uma pessoa solar. Vou morar nela, se ainda tiver forças, vou morar nela.

E la nave va…

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