Tempo de dar graças

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Dia destes, uma amiga querida e eu conversávamos solenemente sobre isso: agradecer por tudo o que nos cerca e nos facilita a vida. Ela disse que se senta na varanda, a casa em obras, medita e agradece. Contei que louvo a sagrada mesa onde faço minha refeição e até mesmo os eletrodomésticos, auxiliares preciosos na nossa cozinha. Mas, sobretudo, dou graças pela água, tão somente pela água.

A bênção da água chega até a nossa casa, feito um milagre maravilhoso! A água do nosso uso diário, a água que deixa a nossa roupa tão boa de usar novamente, limpa, fresca e perfumada. Esta água benfazeja nos cura e nos salva sempre, quando nosso maior desejo é um banho quente e a cama com lençóis aconchegantes.

Ao cozinhar, vou lavando a louça e me lembro das cenas na tevê, as pobres mulheres que caminham por quilômetros equilibrando um balde na cabeça, levando para a casa e para os filhos uma água suja e perigosa. A imagem nos comove, ficamos indignados, mas para nós, basta abrir a torneira e a água está ali, um presente do céu.

Então, evoco a música celestial e eterna, um salmo encantador. A comida vai sendo feita, os utensílios lavados e penso na humilde “casinha de Nazaré”. A pobreza da Sagrada Família foi descrita no livro de uma mística que teve muitas visões. Maria cultivava uma horta, havia algumas árvores frutíferas no fundo do quintal, criação de aves, ela apanhava uma fruta para o Filho, guardava alguns ovos, colhia verduras. E quando estavam juntos, comiam em silêncio. A mesa e os bancos simples feitos por José. Tudo era paz.

Tanto já sonhei com uma casinha pequenina, onde o nosso amor nasceu. Mil vezes construí em pensamento uma gentil morada num terreninho em local aprazível, lá no campo. Eu colocaria uma placa: “Senhor ladrão, não perca seu tempo. Sou uma aposentada e pensionista do INSS, o senhor deve ganhar mais do que eu. Tudo o que tenho é esta casinha e o carrinho na garagem. Lá dentro, o bem mais preciso é um velho computador. E dois relógios que foram do meu lindo. Por favor, não estrague nem a maçaneta e a porta de entrada. Muito grata”.

Na engenharia do meu sonho, louvo as coisas pequeninas, aparentemente insignificantes, mas sem as quais a vida se tornaria mais difícil. A agulha e a linha. A faca de cortar o pão. Um sofá bom. Um chuveiro novo. Minha mãe dizia que temos de valorizar tudo, usar o que compramos até acabar, pois cada coisa tem sua utilidade e sua sagrada presença entre nós.

Um canto ecoa pelos ares, ressoando no topo das colinas e dos rochedos, no alto dos telhados. Que toda a terra exulte e dê glórias ao Senhor. As aves do céu cantam em louvor ao Pai que as alimenta. As montanhas reverberam a glória divina, em esplendor e majestade. Um coração pequenino, cujo corpo começa a ser vencido pelos anos, comprime-se em sua miséria terrena, adorando timidamente o Senhor dos exércitos.

Minha alma glorifica o Senhor. Meu espírito exulta em Deus, meu Salvador. Louvor e glória a Vós, ó Deus do Universo.

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