Tempo de sonhar

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sonho1Perguntaram-me se não pretendo comentar, neste espaço, as incompetências do atual governo e o “julgamento” dos réus do mensalão; a guerra na Síria e a política internacional; a espionagem do governo americano (que afronta à nossa soberania!); o “fantasma” da inflação e todo o resto que a maioria já conhece “de cor e salteado, de trás pra frente”, como diria meu amado pai.

Falando no meu pai, meu amor por ele levou-me a um gesto que o eternizou: há uma rua com seu nome no Campestre. Poucas pessoas amaram tanto o bairro quanto o “seu Chico Fillet”, como ele era carinhosamente conhecido por aquelas bandas. Recorri à ajuda de um nobre vereador de nossa cidade, para dar andamento no processo que culminou com a sua aprovação pela Câmara.

Lá está a placa, num dos postes da estrada, com o nome do meu pai. Quando passo naquele local, meu coração bate mais forte, pois imagino que, lá do céu, meu pai se comove até as lágrimas, como costumava se comover por qualquer coisa aqui na terra, tirando o lenço do bolso, enxugando o canto dos olhos. Desejei prestar-lhe esta singela homenagem e fazer brilhar o nome do meu pai numa simples placa de estrada, ele que sempre foi tão simples.

Mas, voltando ao assunto do início, confesso não sentir muita vocação para abordar com frequência o momento político, a violência destes tempos, a corrupção, as injustiças e as sombrias perspectivas mundiais. Deixo estes temas para o valente time de articulistas deste bravo jornal.

Cronista que sou, e isso é um privilégio fascinante, ando numa fase de sonho. Para variar. Penso que escrever é sonhar e libertar o sonho, as lembranças. Nas minhas recordações, estou acima do mundo e de mim mesma. Encarapitada no alto de um muro, comendo um maravilhoso pão sovado com manteiga, eu era a menina mais feliz da terra, observando os pombos se aninhar junto à mangueira do nosso quintal.

Anoitecia, e cada estrela era um incêndio de felicidade para a minha alma. Havia música no céu, na terra, num mar distante que eu ainda não conhecia, mas que me chamava, me chamava, eu podia ouvi-lo dia e noite sem cessar. O chamado vinha do mapa do Estado de São Paulo que a professora usava em sala de aula. Ela pegava o ponteiro de madeira, apontava-o para o Oceano Atlântico. Via-me naquelas águas e meu coração ficava aos pulos.

Várias vezes na vida, nosso coração fica, ou ficou, aos pulos. O meu ainda dispara quando sinto este chamado marinho, o sonho de ir viver numa beira-mar. Como escreve Danuza, bastam dois pares de sapatos, um de andar na areia e um para sair; dois biquínis, dois shorts e quatro camisetas, um suéter para os dias mais frios. Eu incluiria aí duas calças jeans e duas saias longas, estilo indiano.

Ó, uma vila de pescadores, andar pela praia, comprar peixe fresco, fruta, verdura, tomar água de coco. Na garagem, o sagrado carrinho para irmos à missa no domingo e até a uma vendinha próxima, onde comprar o açúcar, pó de café, arroz, algumas conservas, as coisas básicas com que se abastece uma digna casa.

Ainda é tempo de sonhar. E eu sonho.

 

 

 

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1 comentário

  1. Reinaldo Diniz de Oliveira em 04/10/2013 às 14:20

    Prezada cronista, não há muito o que se comentar, mas só vive quem sonha, quem tem projetos, caso contrário está pronto para mudar de plano.

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