TOM DE CINZA
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Cinza está na moda. É chic assistir ao filme de E L James” Cinquenta tons de cinza”, ou ler os três volumes de mesmo nome. Mas não se trata dessas cinzas. É das cinzas da Quarta-Feira. Não é um tratado de sadomasoquismo para apimentar os enredos e as tramas da relação sexual. É das Cinzas que abrem, para os católicos, os exercícios da Quaresma, em preparação à Pascoa.
Muitas crianças nem conhecem cinzas. O fogão hoje é a gás ou elétrico. Até churrasqueira assa carne sem lenha. Mas a Igreja mantém o gesto simbólico da imposição das Cinzas. Por que uma quarta-feira de Cinzas depois do Carnaval? Os católicos são convidados a reconhecer com humildade seu estado de mortalidade e a revisar sua vida perante os valores perenes do código de Deus. A palavra de ordem é: “lembra-te que es pó e ao pó hás de tornar”. Por isso: “converta-te e crê no Evangelho.”
Cobrir-se de cinzas é um gesto religioso presente já nos costumes do Antigo Testamento para simbolizar o arrependimento pelos mal-feitos e a disposição de reduzir a cinzas tudo o que vai contra a proposta do Senhor. É um ato de revitalizar a nóia que sufoca nossa criatividade e entusiasmo de viver. Ao lembrar que “somos pó e ao pó vamos voltar” (não aquele outro “pó”!) tomamos consciência da nossa insignificância humana, inclusive do corpo. O corpo humano é a nossa primeira terra. Considera que és pó, húmus, homem, feito de barro. Voltar ao pó no sentido de girar, voltar o olhar para a terra e para si mesmo. Reconsiderar este vínculo com a mãe-terra. Após a morte, pela via do enterro no solo ou pela cremação, o humano reencontra sua terra, seu pó. Os humanos são filhos da terra, obras de argila, trabalho de oleiro. Como dizia Abraão: “Vou ousar falar ao meu Senhor, eu que não passo de pó e cinza” (GN 18,27)
De onde são extraídas as cinzas da Quarta-Feira? Para dar uma continuidade ao procedimento litúrgico que se desenvolve ano a ano, as cinzas usadas em 2015 são resultado da queima dos ramos bentos no Domingo de Ramos em 2014. Daquela vida que foi “secando” durante o ano de 2014, vai ressurgir a nova vida a partir do esforço deste novo ano. Inclui portanto, a idéia de ressurreição, de Páscoa.
Quarta-feira de Cinzas com vários tons de cinza: penitência, jejum, abstinência, confissão, via-sacra, fraternidade, paixão, morte. Ressureição. Ressurgir das cinzas, como a fênix da mitologia. Sem masoquismo, nem sadismo. Apenas uma abstinência purgativa.
Pe. Otto Dana – Diocese de Piracicaba