Um quilo e meio

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piracicaba2Reportagem na TV mostrou que Piracicaba é a maior produtora de lixo da região; supera Campinas. Segundo o técnico entrevistado, estima-se que cada piracicabano produza em média um quilo e meio de resíduos por dia. Tais dados indicam crescimento econômico; mas também expõem a irresponsabilidade da população quanto ao consumo e ao meio ambiente. Caminhando pelas ruas, mais ainda nas regiões periféricas, salta aos olhos o relaxo de grande parte dos piracicabanos.

Existe lixo nas bocas de lobo, nos terrenos, nas áreas verdes, nas margens dos córregos e nas calçadas – muitas delas cheias de buracos, degraus, material de construção, cacos de vidro, sofás, árvores mal cuidadas, bosta de animal, entulho, e cães assustando pedestres pelos vãos das grades. O último arrastão de prevenção à dengue ajuntou 430 toneladas de lixo. O programa de reciclagem que existe na cidade há pelo menos 15 anos, deixa a desejar pela falta de autonomia, investimento público e de ações educativas junto à população. Muito dinheiro vai para Paulínia.

Completando o caos, a falta de árvores nas ruas é gritante. A massa prefere ar condicionado e ventilador. Casas parecem túmulos rodeados de concreto; sem falar dos condomínios fechados, dos muros altos e portões de chapa a demonstrar o medo que tomou conta de uma cidade que, ao optar pelo desenvolvimento econômico, deixou as relações humanas, que promovem solidariedade, respeito e bem querença.

Os resultados estão nas notícias da imprensa local. Ano passado, 61pessoas foram mortas de forma violenta; estupros chegaram a 44 casos e usuários de crack somam 12 mil. Setenta idosos esperam vagas nos abrigos. O município tem seis favelas com grande concentração de pobreza e densidade populacional. O Pelotão Ambiental registra seis casos de som alto por dia. Entre janeiro e novembro passados, foram registrados 1.945 acidentes de trânsito com vítimas, das quais 29 morreram.

O que tem a ver isso tudo com o lixo? Tem que uma coisa puxa outra. Povo sem positiva autoestima agride a natureza porque a harmonia o perturba, visto que lhe falta na alma; e produz muito lixo porque procura nos bens o que no coração não tem – basta observar as imensas filas nos supermercados. O lixo espalhado reflete um povo inculto e sem amor próprio, que não tendo por si muito menos pelos outros. Por isso os crimes, os idosos abandonados, as favelas, os viciados, as mortes no trânsito, o som agressivo, os mendigos nas ruas e o salário vergonhoso dos coletores de lixo.

Em geral, povo com esse tipo de mentalidade valoriza aparências, e como uma coisa puxa outra, elege políticos com a mesma cabeça. Tanto que apoiou massiçamente uma administração que, sem entraves, fez o que e como quis. De pólo sucroalcooleiro a cidade virou pólo automotivo. Esticou o perímetro urbano para acolher as demandas do setor imobiliário. Incentivou o transporte particular com portentosas obras viárias. Construiu dezenas de próprios públicos e deixou dinheiro em caixa. Porém, ficou muito a desejar na saúde, saúde mental, habitação, segurança, lazer, meio ambiente, atividades inclusivas para jovens e adolescentes da periferia, na participação popular, no debate político, e, mesmo inchando a cidade, trazendo um presídio e majorado ilegalmente na última semana de gestão a tarifa do ônibus, conseguir fazer seu sucessor. Deu pra entender?

E, quanto ao lixo, matéria publicada no JP de 11.02.12, dava conta que “estudo elaborado pela mestranda Thais Felipe de Melo da ESALQ em 2012, mostrou que a gestão do lixo era precária em Piracicaba. A prefeitura não fazia gestão de resíduos. Apenas gerenciava um sistema complexo, caótico, sem o planejamento de ações.” Se melhorou de lá pra cá não senti.

Não disse que uma coisa puxa outra?

2 comentários

  1. Marisa Bueloni em 07/02/2014 às 22:54

    Danelon, o que fazer com o lixo que produzimos? … E como o ser humano produz lixo!…
    Parabéns pelo texto. Abraços da Marisa

    • Antonio Carlos em 12/02/2014 às 12:00

      Obrigado, amiga. Penso que precisamos ter uma vida mais sóbria. Isso só acontece com pessoas que descobriram a essência da vida.

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