Um sentido para a vida
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Peço licença para escrever um pouco sobre um tema que me inquieta eternamente: o sentido da vida. Já o abordei algumas vezes e tenho consciência de que nunca o esgotarei completamente.
Convido o caro leitor a praticar comigo o exercício sublime de encontrar este sentido. Enquanto escrevo, meu coração transborda de amor, de generosidade e de bondade. Creio que o estado de graça se parece com isso: esta leveza, esta beatitude mística, esta calma musical que escapa dos fonemas.
As palavras. São elas as responsáveis por tudo. São as culpadas de todas as coisas, as orais, as pensadas, as escritas e as ditas em momentos não muito apropriados. Fazer o que, depois que as proferimos?
Com humildade, pergunto o que seria de nós sem as palavras, sem um digno alfabeto. Há um sentido para o que escrevemos e o que falamos. Cada letra terá seu peso e sua magnitude num universo de significâncias.
Chego a pensar que o sentido da vida está nas palavras. Delas decorre o que acontece. Se nada digo, reina um mutismo instransponível, latência de possibilidades. Por isso, falamos, escrevemos, redigimos, nos comunicamos. Alguma inspiração subsiste em nossas almas para que façamos isso todos os dias, sem nos cansar.
Para que a vida tenha sentido, para que haja um “fiat” em cada vocábulo, é preciso o cultivo das frases que integram ideias. Desejo que o leitor encontre sua palavra e seu sentido. Se me perguntarem qual a mais bela do dicionário, diria que é “liberdade”. Mas há outras de igual beleza: justiça, amor, felicidade, paz, lucidez, fé.
A palavra tem o poder de construir universos, pontes, catedrais e casas para morar. Ela faz transbordar os rios, as lutas, os sonhos. Mesmo no mais absoluto silêncio, encontramos a palavra e sua força.
É pela palavra que eu digo “eu gosto de você” e o profundo “eu te amo” – ainda que o outro não acredite. Ou ainda “eu espero o seu abraço”. Há abraços curativos e enquanto ele não chega, ficamos à espera de um sinônimo para acalmar o coração.
O sentido da vida está no bem que fazemos, nas bênçãos que proclamamos, nas graças que pedimos, na fé que determinamos. Nada disso teria sentido sem as letras benfazejas do afeto e do amor, sem o acento tônico da sensibilidade e da inteligência, sem a magia romântica da beleza junto de nós.
Um dia, li uma frase assim: “o amor canta ao nosso redor”. E me encantei com ela para sempre. De vez em quando, faço questão de recordá-la em meus textos, porque encontro um sentido para a vida quando a celebro.
Eis a mais bela celebração. O amor que canta ao nosso redor todos os dias, cântico divino. Vamos morrer procurando o que nos dê esperança. De esperança vivemos. De esperança nos nutrimos. De esperança morremos.
Se um dia tudo se acabar de repente, restará a palavra. Haverá um vocábulo correto e insubstituível para o adeus final. Não sairemos daqui calados, ó não! Nossa alma, errante ou segura do caminho, há de continuar procurando o segredo, o mistério, talvez nos braços do Pai que nos ensinou a buscar um sentido para a vida.